sábado, 28 de janeiro de 2006

Notas de ETHICS AND AESTHETICS: REPLIES TO DICKIE, STECKER, AND LIVINGSTON
de Noël Carroll
British Journal of Aesthetics, Vol. 46, No. 1, January 2006

Moralismo moderado (MM) (defendido por Carrol):
em parte a doutrina de que uma mancha (ou uma mácula) ética em uma OA (obra de arte) pode ser também responsável por um defeito estético.

Diferente de:

Eticismo (E): é a primeira doutrina levada mais longe. Uma mancha ética sempre constitui um defeito estético.

Autonomismo moderado (AM): a proposição de que ainda que um defeito moral possa contar como uma mácula artística em uma OA, isto nunca resulta numa mácula estética (em que o valor estético com respeito a OAs é uma subcategoria à parte do valor artístico).

Como Carrol interpreta a perspectiva de Dickie, este rejeita tanto E quanto MM, ao passo que abraçaria alguma forma de AM.
DRINKING ALONE WITH THE MOON

From a pot of wine among the flowers
I drank alone. There was no one with me --
Till, raising my cup, I asked the bright moon
To bring me my shadow and make us three.
Alas, the moon was unable to drink
And my shadow tagged me vacantly;
But still for a while I had these friends
To cheer me through the end of spring....
I sang. The moon encouraged me.
I danced. My shadow tumbled after.
As long as I knew, we were boon companions.
And then I was drunk, and we lost one another.
...Shall goodwill ever be secure?
I watch the long road of the River of Stars.

more Li Po poems
listening to tom waits. This motherf***** can sing. And play. I couldn´t say more. I´m drunk on the moon. Hey, that´s Li Po Poem. Happy anyway.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Shakespeare em português

No link da cultvox é possível baixar várias obras de Shakespeare traduzido para o português:
link
Pena que -a julgar por uma parte que li de Hamlet- é péssima a tradução.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Mais uma retirada do blog "Leitura Partilhada".

Comentei a respeito da seguinte citação:

Hamlet
Oh! Se esta carne compacta pudesse fundir-se, liquefazer-se, transformar-se em orvalho! Se o Eterno não tivesse formulado decretos contra o suicídio! Meu Deus! Meu Deus! Como são fastidiosos, gastos, vulgares, os bens terrestres! Que mundo êste! Oh! É um jardim inculto em que crescem as ervas bravas!

Interessante ler essa passagem com a "chave" do soneto 94 (*). Hamlet é uma erva brava, que apodrece num jardim de lírios (a Dinamarca, o casal real) que, infectados por um mal (traição e assassinato do pai de Hamlet), fedem mais do que as ervas.

A vil erva vai turvar-lhes (ultrapassar-lhes) a compostura (dignidade).

Não há fuga à vida, mas preparação para a morte.


___
(*)
Soneto 94
They that have power to hurt, and will do none,
That do not do the thing they most do show,
Who, moving others, are themselves as stone,
Unmoved, cold, and to temptation slow:
They rightly do inherit heaven’s graces,
And husband nature’s riches from expense;
They are the lords and owners of their faces,
Others, but stewards of their excellence.
The summer’s flower is to summer sweet,
Though to itself it only live and die,
But if that flower with base infection meet,
The basest weed outbraves his dignity:
For sweetest things turn sourest by their deeds;
Lilies that fester smell far worse than weeds.


Eles que podem magoar, mas não,
não fazem coisas neles evidentes,
que movem outros e em si mesmos são
de pedra, imóveis, frios, reticentes,
herdam graças do céu, poupam primores
da Natura a desgaste e decadência,
de suas faces donos e senhores.
Outros são servos só dessa excelência.
Embora para si viva e pereça,
a flor do verão ao verão traz a doçura,
mas basta que se infecte e adoeça,
vil erva vai turvar-lhe a compostura.
Se há feitos que os mais doces mais azedem,
os lírios podres mais que as ervas fedem.

Sonetos Completos de William Shakespeare
Tradução de Vasco Graça Moura
Fonte:
Leitura Partilhada (clique)

sábado, 21 de janeiro de 2006

Ricardo III Shakespeare

Remate
Ricardo
...não deixemos que sonhos estúpidos impressionem nossas almas. A consciência é uma palavra usada pelos cobardes e inventada para enganar os fortes.Seja um braço vigoroso a nossa consciência, sejam as espadas a nossa lei. Avante...lancemo-nos na confusão da peleja e dando-nos as mãos, à falta do Céu, vamos todos juntos para o Inferno...

Acto Quinto
Cena III

O texto acima foi retirado de um blog português que se propõe (e o faz, de "facto"), a ler Shakespeare, Joyce, Machado, entre outros.
Estão a ler Hamlet.

Saiba mais em:
http://leiturapartilhada.blogspot.com

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Estética Darwinista (editado 19/1/06: negrito)

Artigo de Denis Dutton clique - editor do website Arts and Letters Daily, verdadeiro tesouro para quem busca informação de qualidade na internet (e não tem problema para ler em inglês). O melhor é que ele é também professor de filosofia da arte na Universidade de Canterbury na Nova Zelândia.

Para o professor, que está escrevendo um livro sobre "Estética Darwinista", frequentar obras de arte não é uma atividade tão "inútil" quanto se pensa. Aqueles que dentre nossos ancestrais aprenderam a derivar prazer da "prática" ficcional (dos conflitos e perigos) para a vida real obtiveram na verdade um salto evolutivo: eles estavam mais preparados para lidar com o mundo real quando se depararam com ele.

Apesar de eu querer concordar com a tese, pergunto se a uma estética darwinista não seria necessário acrescentar uma ética que lhe acompanhe. Aquela parte da ação, da escolha, no mundo real. Há sempre a possibilidade de optarmos pela tragédia. Nesse sentido, não se pode dizer que "aprendemos" a lidar melhor com os conflitos com a tragédia grega, ou Shakespeare, se ao que parece estamos condenados a repeti-los em nossas vidas (quando ferimos alguém que nos ama e que amamos, por exemplo). Por outro lado, eles nos fornecem exemplos sobre os quais podemos refletir longa e profundamente.Tornamo-nos melhor? Não sei dizer. Mas com certeza tornamo-nos outros.

Talvez o ponto seja esse mesmo: a "outridade" a que somos submetidos por meio da arte nos transforma, de um modo, em todos os sentidos (as palavras aqui fazem eco umas com as outras) perceptível. Aristóteles, não por acaso o filósofo grego que primeiro pensou a catarse na arte, escreve o postulado de que a alma é potencialmente as coisas que percebe e sente. Se você não percebe e sente, é sua alma que se apequena.

A complexidade introduzida por uma audição, ou leitura, ou contemplação de uma obra artística visual, tem efeitos naquele que experimenta - sobre o modo de pensar, individual e coletivo, sentir, maneiras de agir no mundo. Independentemente de bem e de mal. Este é outro problema, que a filosofia da arte não cansa de discutir e que a arte não cessa de propor.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Baudrillard falando sobre seu novo livro "A Conspiração da arte":

Arte era uma forma, e então tornou-se gradualmente não mais uma forma, mas um valor, um valor estético, e desse modo fomos da arte para a estética - é algo muito, muito diferente. E à medida que a arte se torna estética ela se junta à realidade, ela se junta à banalidade da realidade. Pelo motivo que toda realidade se torna estética, também, é uma confusão total entre arte e realidade, e o resultado dessa confusão é hiperrealidade. Mas, nesse sentido, não mais uma diferença radical entre arte e realismo. E isso é o próprio fim da arte. Como forma.

São temas caros ao autor, "banalidade", "transfiguração", "perda da diferença", "hiperrealidade", "fim da arte".

A arte se torna estética, isto é, ela se torna filosofia. Não estaria aí Baudrillard negando o potencial filosófico da arte? Arte é forma. Mas é também reflexão. Reflexão pela forma. O problema é quando ela deixa de ser forma para ser só reflexão. Quando se torna na maioria das vezes má filosofia.

Por outro lado é impossível separar o valor estético daquilo que é uma obra de arte. Obras de arte são objetos que possuem valor estético. Quando dizemos de uma obra que "ela é boa", boa para ser perseguida, alcançada, imitada, aí está seu valor estético e normativo.

Uma obra se torna menos banal quando adquire maior valor estético. Não o contrário. A realidade é banal. Mas pode vir a se tornar estética. Arte é a transfiguração do banal em algo digno de ser apreciado.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

O que eu sou, eu não sei, "disse Baudrillard", com um brilho gaulês no olho. "Sou o simulacrum de mim mesmo."

O público deu uma risadinha.

"E quantos anos você tem?" persistiu o questionador.

"Poucos."

What I am, I don’t know,” Baudrillard said, with a Gallic twinkle in his eye. “I am the simulacrum of myself.”

The audience giggled.

“And how old are you?” the questioner persisted.

“Very young.”



MEN OF LETTERS
BAUDRILLARD ON TOUR

THE nEW yORKER
THE TALK OF THE TOWN
Issue of 2005-11-28
Posted 2005-11-21
— Larissa MacFarquhar
Sexta-feira, 6 de janeiro de 2006.

17h36. No exato momento, mataram a tiros uma mulher na joalheria a poucos metros de minha janela.

17h48. E-mail de Soares Feitosa: "A mulher morta em sua janela? A morte sob a janela? O que dizer, como se fora ao tempo, Alemanha, quando os SS buscavam os judeus às nossas barbas?
Levavam-n(l)os!
Discordo de dona Hanna quando ela fala numa suposta banalidade do mal. É muito pior, mas isto seria assunto para muita cerveja leve, dessas garrafinhas miúdas que gente vai abrindo e bebendo. Abraço grande. SF".

18h22. Helicópteros buscam os criminosos. Neste momento, abandono a escrivaninha e saio para a rua do crime, para a sexta, para a cerveja.

Sexta-feira, 13 de janeiro de 2006.

Não foi apenas um o número de mortos. Foi homicídio duplo. Homem e esposa. Assassinados dentro da loja. Sem chance de defesa.
Mais uma do vendedor da "garapa antiverme" para os pobres da Praça da Sé: "Este é o maior laboratório do mundo: O laboratório de Deus".

Sim, só que ele esqueceu de dizer, como Cazuza, que as cobaias somos nós.

Uma amiga que trabalha também perto, passou por lá outro dia e anotou-lhe esta:

"Não como muito. Mas tudo bem. Se comer muito fosse bom, elefante não morria".

...

"Opressão descontrolada".

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Minha mulher não gostou do que eu escrevi hoje na Bula sobre arte e religião. Ela acha escrever contra a religião "coisa de adolescentes".
Resposta ao comentário do camarada "Le vautour" (segunda-feira, 9 de janeiro). Finalmente um pouco de comentário crítico. Ótimo, ótimo, não quero perdê-lo como leitor/colaborador. Quanto à variedade de notas, olhe, eu assumo inteiramente a "estética do fragmento". Quero mais a multiplicidade, quem sabe assim arranho um pouco a superfície do Real. Me sinto um indigente. Pudesse, eu leria mil vezes mais, escreveria duas mil. Publicaria 1 500. Sacou? eu cortaria 500. Mas não tenho esse tempo todo para escrever corretamente, lentamente. Eu só sei tomar notas. Notas, como você bem notou. Dandismo é elogio seu (Wilde, Baudelaire, até Peirce eram dândis). Literatura para mim é fragmento. Sei que preciso melhorar muito ainda a minha "costura". (Um dia quem sabe eu escrevo um romance, me pergunto se conseguiria). Por enquanto escrevo esses diários. Como diário, entra um pouco essa questão de falar sobre si mesmo. Deixo isso mais livre no blog. Sobre abrir a possibilidade para colocar "posts" na coluna, quase não deixam comentários aqui e não seria muito diferente na Bula, eu acho. Eu só discordo da sua última frase de que "uma intimidade com a grande arte" seria "pouco afeita à multiplicidade fugidia da experiência estética cotidiana", pois ao meu ver, a grande arte se baseia na experiência cotidiana. Não há contraposição. Manet retrata pessoas em situações cotidianas. O que seria fugidio torna-se então eterno. No caso da frase que você cita, eu remeto para a coluna da semana anterior, onde o leitor pode constatar o que eu digo apenas observando o quadro que ilustra e a fotografia de Sarah Jones. O olhar que se desvia dos outros olhos. Como no célebre "O Balcão", vemos um grupo de pessoas que, a despeito da grande semelhança física, não se intercomunicam.

Abraços e obrigado.
Lauro

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Da Folha:

Em "Uma Vida Divina", lançado na França na última quinta-feira, o romancista e crítico Phillippe Sollers tece um elogio à alegria e à beleza e se coloca em contraponto à ficção sinistra de Michel Houellebecq

Phillippe Sollers
Une Vie Divine - éd. Gallimard, 2006
Percebo agora, por meio do informativo ensaio de Massaud Moisés, que os "Cadernos de Lanzarote", objeto de minha recente leitura, com atraso de mais de uma década desde a data em que foram escritos, fazem parte apenas do volume 1, editado pela Companhia das Letras, no Brasil, enfeixando os anos de 1993 a 95. Saiu outro, pela mesma editora, cobrindo os anos de 96 a 97. Originalmente eles compunham uma série de cinco volumes, reunidos aqui em apenas dois grossos tomos.Todos são anteriores ao Prêmio Nobel, recebido em 1998. Ao que parece, depois disso Saramago deixou de escrever esses diários ou por algum outro motivo, que me interessaria saber, ainda não os publicou.

Incrível é que, ao folheá-los, tem-se a impressão de atualidade, como já foi dito a propósito, à maneira das notícias que nos é possível acompanhar diariamente nos jornais. Estamos como diante de "um romance com uma só personagem": o escritor vivo, que respira e se move. Há, é preciso dizer, outros atores, como a mulher Pilar, as visitas que vão até Lanzarote, a própria ilha, que é uma personagem muito marcante e à parte, os amigos, escritores, e congressistas com quem trava encontros, e que fazem parte do "mundo literário" do autor, e até mesmo os cachorros que se integram à vida doméstica (sobre os quais o escritor não se refuta a tecer comentários vários, inclusive sobre a personalidade destes). Tudo isso nos é apresentado por um narrador, que participa dos fatos, mais do que os cria. Sem dúvida, porém, recriando-os através do poder da palavra e fixando um momento efêmero, num tempo em que, dada a presentidade imanente na forma em que é mostrado, ainda não terminou.

domingo, 8 de janeiro de 2006

Eis que reencontrei, há poucos meses, no ano passado, a Bananeiras de minhas saudades, em uma cidadezinha, próxima a Campos do Jordão (SP). Por certo que é outro o clima, a culinária, o dobro da altitude, e, sobretudo, outra a gente. Não há ali nenhum pé de oliveira (*) em que descansasse um ancestral meu. Mas dei por mim que já a reencontrei nos lugares mais estranhos. Até mesmo entre os carros e o asfalto, em meio a amoreiras, no canteiro central, da poluída Avenida Sumaré, em São Paulo. Chego então à conclusão que parece óbvia: é ela que não me deixa.

____

(*) Como as chamávamos essas árvores altas, de muitos galhos, extensa sombra, e frutos negros, carnosos, também lembrando azeitonas pretas, só que doces, e que até hoje não sei como se denominam de fato.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Enfim, uma doçura, neste meu "diário". Encontro, sem que estivesse procurando por isso, um site da cidade dos meus avós e onde foi criado meu pai, as fotos que me trouxeram de volta à meninice.

Há uma expressão popular, de quando as coisas estão ruins, dizer-se que "a vaca foi para o brejo". Porém, lembro de um congresso de semiótica, que participei em 1994, na minha terra natal, Campina Grande, não muito longe de Bananeiras. Ali me foi ensinado, por certo professor, cujo nome infelizmente não me recordo agora, durante um curso sobre "linguagem figurada", que o dito viria do fato de nos períodos de grande estiagem e seca, o animal ser levado para o brejo. A interpretação, se não estiver correta (leia-se a respeito o comentário de Soares Feitosa), pareceu-me coerente. Nesses locais, o clima se mantém ameno a maior parte do ano, a vegetação permanece verde. É possível, então, ao gado ir lá para poder ainda se alimentar. Esses pequenos oásis, no sertão da Paraíba, foram para mim a parte mais feliz da minha infância. E me pergunto se, por acaso, quando algo me falta, não é lá que vou eu também buscar forças.

Bananeiras, Paraíba, vista do do alto da serra, de onde se observa o vale em que se esconde.
centro da cidade, tendo ao fundo o Colégio Sagrado Coração de Jesus, colégio de freiras onde residem atualmente as Carmelitas Descalças.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

Vi-o novamente. Era de fato o homem que vendia remédio para lombrigas. "Opressão descontrolada" é apenas um item do rol de sofrimentos atribuídos por ele a quem tiver a má-sorte de portar no ventre o malfadado verme.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Hoje, o mesmo homem (será que era ele mesmo?), na Praça da Sé, que expunha lombrigas e vendia o remédio para curá-las, alardeava um elixir contra, entre outras coisas, "opressão descontrolada" (sic). Mas quem é que ainda sofre disso? Quem? Ninguém. Nem mesmo este que vos (?) escreve. Muito menos na Praça da Sé. Muito menos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Dessa vez acertaram o presente (e eu ainda nem sequer agradeci...). Li ontem umas cem páginas dos Cadernos. Leitura prazerosa. Inveja, felicidade e encontro (que é um dos outros tantos nomes para felicidade), são os sentimentos com os quais descrevo minhas impressões iniciais. Preciso ler logo os romances. Definitivamente, fui convertido ao "saramaguismo".

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Finalmente me decido a ler o Saramago. Bem, fui forçado a tanto, uma vez que me presentearam com esses "Cadernos de Lanzarote" (Cia. das Letras, 1997). A verdade é que tenho desenvolvido certa predileção por esse tipo de literatura. Ouvi dizer que os diários de Virgínia Woolf superam em qualidade tudo mais que ela escreveu. Mas não posso e nem deveria confiar no que escutei de terceiros e espero também não estar induzindo ninguém a acreditar no que repito, apenas a título de curiosidade. Voltemos, pois, mais uma vez a Saramago. Há uma idéia, que me apetece, do diário como um "romance com uma só personagem". Transcrevo aqui essas palavras, do prefácio do autor, que aduzem algo a isso, de um modo que eu chamaria, um tanto pedantemente, de "semiótico-pragmaticista":

Porquê esses cadernos, se no limiar deles já se estão propondo suspeitas e justificando desconfianças? Um dia escrevi que tudo é autobiografia, que a vida de cada um de nós a estamos contando em tudo quanto fazemos e dizemos, nos gestos, na maneira como nos sentamos, como andamos e olhamos, como viramos a cabeça ou apanhamos um objeto do chão. Queria eu dizer então que, vivendo rodeado de sinais, nós próprios somos um sistema de sinais. Ora, trazido pelas circunstâncias a viver longe [...], senti (sempre começamos por sentir, depois é que passamos ao raciocínio) a necessidade de juntar aos sinais que me identificavam um certo olhar sobre mim mesmo. O olhar do espelho.

domingo, 1 de janeiro de 2006

"Clara e doce é minha alma... e claro e doce é tudo o que não é minha alma." Levo comigo essas palavras (Whitman) como aqueles que põem passas no bolso em busca de felicidade no ano-novo.

Comentário a esse fragmento de alguma coisa:
"Na escuridão sente-se o Tempo de modo diferente do que na claridade".
Nietzsche. (Enviado por Gustavo)
Imensa borboleta amarronzada pousada de costas, sobre a mesa de trabalho. No quarto fechado. O ano que se foi. E que tarda.