domingo, 26 de abril de 2009

O filho eterno


Em O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, não há tanta crueldade, ao contrário do que afirma o crítico da Veja, cujo comentário vem estampado na contracapa do premiado livro do escritor nascido em Lages-SC. Não dá para equipará-lo a Céline ou Onetti, nesse quesito, por exemplo. Talvez porque os personagens do livro sejam reais - principalmente seu filho, alvo da "crueldade" por ser portador da síndrome de Down, que ele não se reprime às vezes de qualificar como 'idiota", para em seguida demonstrar uma infinita paciência (eu não diria "compreensão", mais uma tolerância diante do inevitável). O que o crítico da Veja queria era quem sabe um outro "Marley e eu". E o romance (no que até onde hoje em dia se chama de romance) não oferece nenhum guia de auto-ajuda. Ele está tão perdido quanto nós. É um escritor, e isso basta. Em alguns momentos me lembra um John Fante, tentando ir em frente com seus escritos e hesitante diante da acolhida que têm. O Brasil, a dificuldade de se viver num país como o nosso, aparece como pano de fundo, nas lembranças do autor. Imigração e trabalho subalterno no exterior, a casa comprada com juros extorsivos embutidos num plano picareta do Governo, o medo diante da polícia, que dariam um segundo romance. O livro termina em um ponto que poderia ter sido outro qualquer. A ficção imita ou antes acompanha a vida dele e seu filho, impedido de chegar à idade adulta (que o pai, como ele próprio faz questão de sublinhar, por sua vez, reluta em alcançar) , daí o "eterno" do título.