quarta-feira, 27 de abril de 2011

Gonzalo Rojas (1917-2011)


Me diverte a morte quando passa

Me diverte a morte quando passa
em sua carruagem tão esplêndida, seguida
pela tristeza em automóveis de luxo:
se conversa do tempo, se despede
do defunto com rosas.
Cada parente agoniado
acha melhor seu vinho no almoço.


 
De: "Revelación del pensamiento". Gonzalo Rojas (1917-2011)
En Antología de aire (Santiago, Fondo de Cultura Económica, 1991)
http://www.gonzalorojas.uchile.cl/index.html

Tradução Lauro Marques


Da superioridade dos loucos

Entendo a necessidade que os loucos têm de permanecerem na rua e não num sanatório, onde serão "tratados" e sujeitos a normas e regulamentos. A loucura é uma espécie de conquista, que ninguém gostaria de conquistar. Mas no íntimo todo louco se acha superior, se acha um Sócrates. Quem vive à margem sempre olha com desdém para os "normais".

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Deus é suiço

Resposta do Papa Bento XVI a uma criancinha japonesa sobre o terremoto, “Não temos respostas, mas Jesus sofreu como vocês”, é um exemplo claro de como funciona a teologia cristã. Jesus é a “desculpa” pela “neutralidade suíça” divina em eventos humanos. O que nos leva a outra constatação: Deus é suíço. E quem dirigiria suas preces a um suíço?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Esboços * borrões 4



Nenhum sopro no despertar da aurora
as vinhas vindouras, verdes ainda no solo
velhas, acumulando-se  nas encostas
a face aguada da montanha
(alto, ainda
alto e fundo
ao reverso; caindo
olhando para cima)
[agora, sim, um sopro
fome de vertigem e vida]





Então não havia fogo ainda, frio 
Olhos rasgados que não veem nada
 Um silêncio suntuoso, sólido, esculpido em rocha

terça-feira, 12 de abril de 2011

Esboços * borrões 2



Olhos rasgados que não veem nada
pontes caídas do desterro
marulhos n'água
(febre alta,
esboços-teares)
[e a natureza -opaca-  abomina o vazio]




continue lendo:
Então não havia fogo ainda, frio

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Esboços * borrões



Então não havia fogo ainda, frio
quem te deu permissão para mudar, assim, de lugar?
por acaso não estavas acostumado à ausência
(dos que te queriam, morto, todavia.
Quando te acercavam cães, vestidos de preto como padres)
e à ventania, empurrando os casebres contra o precipício
e à chuva, desfazendo os olhos em água
e ao desejo, cego, explodindo em miríadas



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mais dois poemas de Gelman




Condecorações

Condecoraram o senhor general,
condecoraram o senhor almirante,
o brigadeiro, o meu vizinho
o sargento de polícia.


e alguma vez condecorarão o poeta
por usar palavras como fogo,
como sol, como esperança,
entre tanta miséria humana,
tanta dor
sem ir mais longe.




31 de março

Acabou o mês
e o filho que não vem
e meu irmão que não volta.

Acabou o mês e não te amei as pernas
e não escrevi esse poema de outono em Ontario
e penso penso penso
se foi outro mês
e não fizemos a revolução ainda.


- Juan Gelman
[tradução Lauro Marques]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Quadra ao gosto popular

Que posso fazer se sou só sombra?
Uma sombra passa - eis tudo.
Meu único prazer é não ser somente eu
Uma sombra neste mundo!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"E ele olha através da canção"

"E ele olha através da canção". Porque uma linha de Guenádi Aigui vale mais que mil poemas, caprichosamente elaborados, miméticos, narrativos, perfeitamente "conscientes de si", enfadonhos, acomodados, loucos para serem "expressos". "As notícias farfalham nas matas". "Campo e pedra." "O calar-se". "Pedra".