terça-feira, 7 de abril de 2015

Aniquiladores



Schlegel, que a irmã dizia que tinha cara de bobo, numa inventiva contra os árabes escreveu em 1798 que estes eram "aniquiladores entre as nações" e uma "natureza extremamente polêmica", porque tinham predileção em destruir os originais depois de traduzi-los para sua língua nativa. Ironicamente, segundo ele, "talvez por isso mesmo fossem infinitamente mais cultos, mas, apesar de toda cultura, mais puramente bárbaros que os europeus da Idade Média. Bárbaro é aquilo que é ao mesmo tempo anticlássico e antiprogressivo". Em outra passagem, acrescenta: "Os árabes absolutizam em toda a parte. O que não lhes parecia útil, destruíam imediatamente".

Absolutamente Nada


Lendo "Absolutamente nada", seleção de textos de Robert Walser (que o vendedor entendeu Roberto Salsa e depois emendou uma valsa), me esforçando para gostar. O homem era admirado, segundo me informa a contracapa, por ninguém menos que Walter Benjamin, Musil, Kafka e Herman Hesse, que escreveu: "Se Walser tivesse cem mil leitores, o mundo seria um lugar melhor". Alguns contos são de uma singeleza que nossa época brutal não mais permite. De tão evanescente fica-se um gosto de nada. Algumas imagens são decididamente clichês e pelo menos um conto, "O bote", na minha opinião não mereceria estar na seleção do tradutor Sergio Tellaroli. Por outro lado, há uma crônica genial sobre as calças compridas das mulheres, escrita em 1911, na qual o autor parece adivinhar o futuro. E eu me lembrei de Antônio Maria, o genial cronista brasileiro, que teve a desgraça de escrever em português, num país que não existe no mapa. Antonio Maria por sinal faria 94 anos em 17 de março - ninguém lembrou. Outro conto, "A história de Helbling", lembra o escrivão Bartleby de Herman Melville e Fernando Pessoa, do Livro do Desassossego.