terça-feira, 26 de abril de 2016

Um poema de outono

Autumn Grasses in Moonlight, Meiji period (1868–1912), ca. 1872–91. Shibata Zeshin (Japanese, 1807–1891).Two-panel folding screen; ink, lacquer, and silver leaf on paper; 26 1/8 x 69 in. (66.4 x 175.3 cm) http://www.metmuseum.org/toah/ho/10/eaj/hob_1975.268.137_av1.htm


ELEGIA






O sol no topo dos edifícios
— na parede de tijolos
tremulando,
as sombras das árvores que brincam
com o vento:

Outono.





Lauro Marques

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Valéry sobre política

Dois extratos de Paul Valéry (o verdadeiro e único) traduzidos por mim:

"A atitude da indignação habitual, sinal de uma grande pobreza de espírito.
A 'política' aí constrange seus apoiadores. Vemos seu espírito se empobrecer dia após dia,de justa cólera a justa cólera.
Cada partido tem seu programa de indignação, seus reflexos convencionais.

***

Todo partido profetiza. Toda a política seria alterada se o fato único de prometer e de  predizer fosse por todo o mundo considerado como insuportável e inconveniente."

terça-feira, 19 de abril de 2016

Tradução de César Vallejo

Hoje gosto da vida muito menos...



Vallejo em París


Hoje gosto da vida muito menos,
mas sempre gosto de viver: já dizia isto.
Quase toquei a parte do meu todo e me contive
com um tiro na língua por detrás de minha palavra.

Hoje me apalpo o queixo em retirada
e dentro dessas calças momentâneas eu me digo:
Tanta vida e jamais!
Tantos anos e sempre minhas semanas!
Meus pais enterrados com sua pedra
e seu triste crescimento ainda não acabado;
de corpo inteiro irmãos, meus irmãos,
e, por fim, meu ser parado e de colete.

Gosto da vida enormemente
mas, desde logo,
com minha morte querida e meu café
e vendo os castanheiros frondosos de Paris
e dizendo:
É um olho este, aquele; uma testa esta, aquela... E
repetindo:
Tanta vida e jamais me falha a toada!
Tantos anos e sempre, sempre, sempre!

Disse colete, disse
todo, parte, ânsia, disse quase, por não chorar.
Que é verdade que sofri naquele hospital que fica
ao lado
e está bem e está mal haver mirado
de abaixo acima meu organismo.

Gostarei de viver sempre, assim fosse de barriga,
porque, como ia dizendo e o repito,
tanta vida e jamais! E tantos anos,
e sempre, muito sempre, sempre sempre!
_______________


"Hoy me gusta la vida mucho menos..."

Poema de César Vallejo.
Tradução Lauro Marques.

São Paulo, 26 de outubro de 2010.
2h.