terça-feira, 22 de junho de 2010

O SILÊNCIO DO ASCETA (SEGUIDO DE UMA NOTA INTERCALADA)

Fala o asceta:
– E quando não tiver mais nada para dizer? Ora, mergulhar no silêncio é uma tarefa muito fácil e agradável. Os sons e os ruídos que brotam como bolhas na superfície do pensamento, forçando-nos a agir, compelindo-nos a algum tipo de ação, como por exemplo, escrever ou falar, é que tornam difícil... viver.

E no entanto, o poeta está continuamente contradizendo o primeiro. É, na verdade, o seu contrário.

Ou antes, preferivelmente, seu complemento.

“– Pois tudo deve ser manifestado, mesmo as coisas mais funestas: ‘Infeliz daquele a quem o escândalo atinge’, mas ‘É preciso que o escândalo surja.’ – O artista e o homem verdadeiramente homem, que vive para uma determinada coisa, deve ter feito antes o sacrifício de si mesmo. Toda a sua vida não deve passar de um caminhar nesse sentido.


“Mas agora, o que manifestar? – Isso se aprende no silêncio.”

(Esta nota que segue entre aspas, em itálico e intercalada ao que escrevi é de autoria de André Gide, que a pensou em 1890, quando veio a lume o Tratado de Narciso – Teoria do símbolo – dedicado a Paul Valéry).

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