sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Hamlet e as ervas daninhas


Que mundo este! Oh! É um jardim inculto em que crescem as ervas bravas!



Ler com a “chave” do soneto 94 (*). Hamlet é uma erva daninha que cresce num maltratado jardim de lírios (a Dinamarca, o casal real, este mundo!), os quais, infectados por um tipo de mal (traição e assassinato do rei), fedem mais do que as ervas, quando apodrecem.



A vil erva vai turvar-lhes (ultrapassar-lhes) a compostura (dignidade).



Não fuga à vida, mas preparação para a morte.

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(*)

Soneto 94

Eles que podem magoar, mas não, / não fazem coisas neles evidentes, / que movem outros e em si mesmos são / de pedra, imóveis, frios, reticentes, / herdam graças do céu, poupam primores / da Natura a desgaste e decadência, / de suas faces donos e senhores. / Outros são servos só dessa excelência. / Embora para si viva e pereça, / a flor do verão ao verão traz a doçura, / mas basta que se infecte e adoeça, / vil erva vai turvar-lhe a compostura. / Se há feitos que os mais doces mais azedem, / os lírios podres mais que as ervas fedem.



“Sonetos Completos de William Shakespeare”. Tradução de Vasco Graça Moura

2 comentários:

Flávio Paranhos disse...

Oi, Lauro! Aceitei de bom grado seu convite postado na Bula e passei por aqui,. Vim, vi e gostei.

Lauro Marques disse...

Ó Paranhos, sempre bem-vindo, abraços bulônicos.