terça-feira, 28 de junho de 2011

EMBAIXO D’ÁGUA



É preciso ser “apanhado” pela literatura, “apanhado” em alguns momentos, em alguns sentidos O rio, quantos rios já vivi? Pela vida, talvez. Falo da vida quando penso na morte. A vida é esguia, como um rio

Imergi, por entre meus pés, piabas, ao pisar, senti o barro mole, por entre meus pés, o sol brilhando na superfície barulhenta e verde, cercado de

Menos raivoso. lodo. Tudo é pré-texto. Foi você ou fui eu quem pensou primeiro isso? Os avós estavam vivos ainda. A casa amarela no pé da serra estava ainda. Meu pai

Cinco anos. Eu ainda não sei que não sei nadar. A água à minha frente parece tão fresca. Eu tenho dois pés. Todo mundo tem dois pés e está na água. A água começa onde acaba a superfície que toco com meus pés. É fácil pisar na água. Eu afundo

também. Tudo é pretexto, você disse? Para mim basta estar aqui. Hum, queria sair dessa dicotomia. Dois, 2+2=5 será possível?

  É tudo tão bonito. Ouço um som surdo e abafado de vozes acima. O que são essas bolhas coloridas? Aqui é bom. Vou ficar aqui mais um tempo. De repente, uma quebra no som. Sou levado para cima. De volta ao sol e às

Tem um hum de reserva guardado aí, para ser usado, 1 elevado a 0 dá sempre 1. Noves fora, eu

nuvens. Treze, agora, eu sei nadar. A piscina estava a uma temperatura de cerca de perto de acho que uns 30º C. Fonte termal. Mergulho

Não foram muitos os rios, pensando bem. Talvez, minha experiência debaixo d’água,

deslizando, pelo fundo, indo. Voltar, voltar. Sem forças eu quase não consigo, mexer, os braços, as pernas, não têm a força necessária para, a água pesa, depressa, depressa!

talvez não tenha sido muito boa.
Na praia, redemoinho, certa vez, mudou minha perspectiva de vida. Outra vez, atravessei o rio dentro do mar - o rio queria me levar

Ela nadou certa vez, alto mar, até a beirada de uma rocha, com o mar batendo em volta, inconsciente de si própria e do perigo, ela simplesmente se deixou levar para longe, longe daquele lugar, de sua adolescência triste e solitária ao lado da mãe, de sua beleza radiante, de si, fora de si, longe. Foi finalmente salva por um barco de pesca numa cena digna de 

O pai estava embriagado demais aquela noite. Ele e ela discutiram mais uma vez. Antonioni. Ele começou a tirar a roupa e correu para o meio do mar, no meio da noite, nu, para a escuridão e o conforto da noite, a água quente do litoral do Norte, “Mar do Norte” (Rilke), permite entrar na água mesmo à noite, chamando os homens e as mulheres, a lua apenas iluminava sua cabeça um ponto preto uma ilha de solidão no meio da noite cálida meu pai naufragava cada vez mais longe da costa e nós ali na praia, na imensa solidão da praia deserta, na escuridão clara de uma lua cheia, agarrados à nossa mãe e à areia, chamando de volta chamando de volta chamando

Desde a infância: são coisas de outro meio, grandes demais, sem uso, sem lugar, que só aumentam sua
solidão.

Um comentário:

medusa que costura insanidades disse...

Essa narrativa é tão bela e poética que realmente nos faz mergulhar...