terça-feira, 8 de novembro de 2005

Vida pulsante na Internet brasileira

É impressionante o número de boas publicações na internet. Destaco essas duas que só descobri recentemente:

Cronocópios - Literatura e arte no plural

Pop Box - Visual, sound and verse poetry

Esta última, apesar do nome, é em português mesmo, e tem excelentes ensaios e entrevistas, de Rodrigo Garcia Lopes, Claúdio Daniel, entre outros.

A Cronocópios é mais variada e completa, caprichada, com apresentação de primeira, e tem entre os colunistas, Alcir Pécora, que também participa do conselho editorial, além de uma longa lista de ensaios, críticas, resenhas, artigos, poemas e contos, e até uma Jam Session (escute a bela "Ondeio", de Marcelo Tápia, para guitarra e violino).

Achei as duas por acaso, procurando por ensaios sobre a crítica Marjorie Perloff.
Para quem não sabe ainda quem ela é, sugiro ler as duas entrevistas que encontrei nos respectivos sites.

Na Pop Box, respondendo a uma pergunta de Rodrigo Garcia Lopes, sobre "Qual a sua opinião sobre a poesia concreta", Perloff afirmou:

Perloff - Foi uma experiência muito interessante, mas a experiência era basicamente prestar atenção à materialidade do significante, a idéia de que de que o material é o sentido, e eu acho muitos poemas concretos magros em sentido. Poesia, para mim, deve ser complexa, rica, ter sentido, ser interessante a cada leitura. Para mim, muitos daqueles poemas se tornaram mais próximo de logotipos, da arte comercial, do design. Como no poema "Wind" de Gomringer, onde a palavra "wind" é tudo que você tem. OK, é uma experimento interessante, mas onde você chega com isso? Ou como no poema "beba coca-cola", de Décio Pignatari. Você pode até dizer que é uma sátira ao capitalismo, mas bastante rudimentar. Quantas vezes pode-se ler este poema e achá-lo interessante? Veja: o perigo na poesia de Creeley, dos "language poets" ou da poesia concreta é a de tornar redutora, o de querer passar por "caprichosa", extravagante, inteligente. O perigo é de se tornar só um jogo de palavras inteligente, fazer trocadilho pelo trocadilho, ser tão auto-consciente da linguagem mas não ter nada a dizer. Acho que é o seguinte: na poesia, seja do século 17 ou na contemporânea, se você não tiver nada para dizer, essa poesia não vai ser interessante. Você tem que ter algo que você realmente queira dizer, que você queira comunicar, um novo modo de olhar para as coisas.

! Link para esta entrevista na íntegra


Na Cronocópios, retorquindo à colocação de Alcir Pécora, sobre a passagem de uma idéia de “transparência” da poesia (na qual o poeta quer soar “natural”, “informal”) para a de “artifício” (na qual a linguagem poética traz para o primeiro plano sua própria construção), passagem essa que é nuclear na análise que faz da poesia contemporânea, ela explicou assim a sua posição:

Perloff - A poesia padrão de uma “oficina de poesia”, como a chamamos nos Estados Unidos, é “transparente” naquilo em que as palavras são meramente um veículo para a expressão de um pensamento profundo ou de um vislumbre supostamente importante. Eu nunca achei esses vislumbres tão profundos assim. É duvidosa a noção de um indivíduo único expressando a si mesmo. Na poesia Language e movimentos afins, o poeta começa com linguagem e deixa que a linguagem gere “idéias” mais do que o contrário. Os bons poetas sempre fizeram isso. Uma das queixas bobas feitas hoje é a de que “dificuldade” em poesia é alguma coisa nova. Entretanto, Donne era um poeta muito difícil, assim como é Wallace Stevens; não foi preciso esperar pela poesia do grupo Language para saber que a simples transparência não é uma virtude em poesia.)


!! Link para esta entrevista na íntegra

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