terça-feira, 7 de setembro de 2010

O homem tolo - poema, antecedido de comentário à leitura de Ulisses

Sábado 14 de janeiro de 2006


Limpo a poeira do Ulisses, traduzido por Antônio Houaiss. Poeira não. São grossas camadas pretas de poluição, gordura, e ácaro. Joyce diria: "Necrófago! Mascador de cadáveres!".

Leio a edição carcomida pelas traças, que traçaram umas curvas (algumas bem elegantes) por todo o livro. Com a caneta, sublinhando as frases que eu gosto. (Ou do estilo). E são muitas.

"Diz Maeterlink: Se Sócrates deixar sua casa hoje, encontrará o sábio sentado à sua soleira. Se Judas sair esta noite, é para Judas que seus passos tenderão. Cada vida são muitos dias, dia após dia. Caminhamos através de nós mesmos, encontrando ladrões, fantasmas, gigantes, velhos, jovens, esposas, viúvas, irmãos do amor. Mas sempre encontrando-nos a nós mesmos."

E de fato, a passagem remeteu-me para algo que escrevi antes. Eis que reencontro. O anti-Zaratustra. O sem força. O poeta, o bobo. O bufão que interrompe, através da parábase, o discurso do sábio. O último dos homens, talvez. Eu. Incipt commedia!


O HOMEM TOLO


O homem tolo construiu castelos de gelo

no verão, onde pensou em morar

por muitos anos

e rimou palavras a esmo

para surdos-mudos e

analfabetos

numa língua morta e

desconhecida

desde então.



O homem tolo saiu à noite com uma lanterna

apagada

procurando pela escuridão

e só encontrou a si mesmo.



Esse homem tolo

abriu as janelas de sua alma

numa rua deserta e no lugar de inspirar,

expirou ali mesmo.


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