sábado, 28 de maio de 2011

Cronopios

HISTORIA DE CRONOPIO

 Lauro Marques

Cierta vez dijo que vio arrastrarse
por las calles de una ciudad en ruinas en la noche
un fugitivo cronopio, muy verde y muy húmedo.
(Mintió que esto sucedió en París.)

El desafortunado polichenela mendigaba
mientras sacudía sus campanas
contra el piso de adoquín
perseguido sólo por el ruido
de los gritos de los niños, el canto
de los grillos y el ladrido de los perros.

O Cão- Juan Gelman



O cão
- Juan Gelman

O poema não pede para comer. Come
os pobres pratos que
gente sem vergonha ou pudor
lhe serve no meio da noite.
A palavra divina já não existe. Que pode
fazer o poema, senão
contentar-se com o que lhe dão?
Depois uivará por aí
sem resposta, será
outro cão perdido
na cidade impiedosa.


- [Tradução Lauro Marques]


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Odradeks


 Segundo Vila-Matas, uma tensa convivência com o duplo era uma das características da conspiração shandy ou sociedade secreta dos portáteis. Em conseqüência disto, cada shandy hospedava em seu interior inquilinos negros, também chamados de Odradeks. O Odradek de Ramón Gómes de la Serna fez sua aparição no espelho de um hotel de Praga, dando-lhe um considerável susto: “Ao mirar-me em um espelho que subitamente me reflete, me acho realmente parecido com meu pai. Serei meu pai? Então toda minha vida tem sido uma fantasia em nome de outro? Não seremos mais que antepassado e nunca seremos nós mesmos?” (EVL, em História da Literatura Portátil, Barcelona 1985)

Os Odradeks eram criaturas ou objetos sombrios, discordantes e patéticos, que se compraziam assustando seus hóspedes e vítimas. E aqui vai como Gómes de la Serna se safou. Apesar de ter se assustado como nunca naquele dia, soube se armar de coragem e humor e acabou subjugando o fantasma do seu pai pela via mais rápida: quebrou todos os espelhos do seu quarto em Praga.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Vida Breve


I
Há livros que não deveríamos ler. Que querem dissipar suas sombras tristes sobre nós, através de nós, tornando-nos seus personagens. Livros assim escravizam. Talvez Onetti fosse louco, assim como todos os grandes escritores (Joyce, Céline, Becket). E talvez escrever seja uma forma de ir adiante. Levantar-se, preparar o café com ovos mexidos, limpar-se, tomar banho, abotoar o paletó e dirigir-se até o escritório. Enquanto sente-se avolumar ao redor as ondas surdas do caos.
 II
A "Vida breve", de Onetti, é também cruel . Me fez lembrar de Céline. Personagens esquisitos, desesperados, a morte rondando ao lado, inquieta. E de vez em quando, frases como essa, entre parêntesis, que iluminam o texto como um clarão de cemitério: "(Alguém pisa, estrangeiro, as folhas caídas no bosque; damos sepultura, sem pompa, à última rosa desse verão chuvoso.)". Enquanto gotas, reais, de chuva lavam a janela do apartamento onde digito isso e uma mulher grita, na casa da rua embaixo, pela terceira vez com o cachorro (que insiste em latir).
 III
Achado escrito à mão num marcador dentro do livro "A vida breve", de Juan Onetti: "Gosto dos livros porque são solidões portáteis". (A frase, talvez seja necessário acrescentar, é minha).
IV
No fim do romance "A Vida Breve", os personagens, que, diga-se de passagem, são produtos da fantasia criados por outro personagem, Juan María Brausen, estão fugindo da polícia. Fantasiados, "excessivamente escondidos no Carnaval", sem roupas para trocar e sem nenhuma perspectiva, sem dinheiro nem documentos, deixados para trás na fuga, sem ter mais para onde correr, eles sabem que quando acabar esse que é o último dia de folia, eles não vão conseguir passar mais despercebidos. É a hora em que está amanhecendo em Buenos Aires e eles estão sentados numa praça enquanto brindam à má sorte com copos vazios e a um homem muito velho que "alimentava-se de minúsculos mistérios sem importância. Na hora da morte acreditou que se salvaria dizendo estar com sono".

terça-feira, 24 de maio de 2011

Um poema do meu livro "Sumário de Incertezas" traduzido para o espanhol


N.



"Yo escribí hermosos libros,"

dijo Nietzsche

a su hermana nazi

loco de sífilis.

Y no dijo más nada.

Nietzsche ha muerto

(por supuesto, como Dios)

pero por lo menos escribió

sus propios libros.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

And nothing, and passes, and always

And nothing, and passes, and always

a hawk in my wake

(in myself)

and nothing, and always, and passes

apart from

something in the streets,

screams almost-sub-human heard >>>>     sssignal

of silence in the streets after a police siren or ambulance

and as if it were today

and if it were

but today, always

and nothing

and far and always

and outside


Cars sliding on a wet track after half past midnight

or later

and then communicate it

and then I wouldn't tell you


What explanation? Say,

there isn't

It's two thirty in the morning and

there isn't

There will not also be

tomorrow

or after

because there isn't

(the only thing to do is wait to read

obituaries by

afternoon.)


LM


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um novo poema traduzido para o espanhol

dibujos * 1 borrones


Entonces no había fuego, todavía, frío
¿Quién te dio permiso para cambiar, así, de lugar?
por casualidad no estabas acostumbrado a la ausencia
(de los que te querían, muerto, sin embargo.
cuando te acercaban perros, vestidos de negro como padres)
y al viento, empujando chozas contra el acantilado
y a la lluvia, disolviendo ojos en agua
y al deseo, ciego, explotando en miríadas