sábado, 16 de julho de 2011

Um fragmento do Ulisses: Torres, cadáver de leite



Ulisses, James Joyce. Uma revolta muda, impotente, diante da morte, o transcorrer inexorável do tempo, cheirando a putrefação, em que “um dia são muitas vidas”, percorre o livro. Como na passagem a seguir, que faz uma referência cruzada ao zoroastrismo1 (a tradução é minha) :"Um cadáver é carne estragada. E queijo, o que é? Cadáver de leite. Li numa dessas Viagens à China que o chinês afirma que um homem branco cheira a cadáver. Muito melhor cremar. Os padres são mortalmente contra. (...) Câmara de gás. Ao pó voltarás. Ou enterre no mar. Onde fica essa Torre do Silêncio parse? Comido por pássaros. Terra, fogo, água."

A capa da edição da Penguin Books 2.

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1- Os elementos eram sagrados para os seguidores desse antigo culto de persas zoroastristas: os parses (ainda existente no Irã, Iraque e Índia). Enterrar ou cremar significava corromper. Eles resolveram a situação depositando os corpos dos mortos no alto de torres, expostos ao sol, para serem consumidos pela ação do tempo, pássaros, etc.

2- Foto de uma "Martello Tower", fortaleza de alvenaria circular de defesa costeira, construída pelo Império Britânico durante o século XIX após as Guerras Napoleônicas. Joyce chegou a viver uma semana numa torre dessas, em 1904, quando tinha 22 anos, onde ele localizou o início do episódio 1 de Ulisses. "The tower was leased from the British War Office by Joyce's university friend Oliver St. John Gogarty, with the purpose of "Hellenising" Ireland. Joyce left after an incident in which Gogarty fired a gun in his direction.The opening scenes of Ulysses are set the morning after this incident. Gogarty is immortalised as "Stately, plump Buck Mulligan" (ver Wikipedia). Hoje transformada em museu do escritor, em Dublin. Foi uma livre associação que fiz baseado na semelhança entre essa estrutura e a Torre do Silêncio parse mencionada no fragmento.

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