BIOPOEÍSIS
Poeta bom é poeta morto. Sempre penso nisso quando ouço falar de fulano de tal, o maior poeta vivo. Mesmo correndo o risco, ouso afirmar que, para nós, Fernando Pessoa ainda é o mais importante. Pegue um volume qualquer das obras dele, dificilmente achará pessoas mais vivas na rua. (O trocadilho é completamente intencional). Outro vivíssimo, para mim, é Nietzsche. Dizem que foi mau poeta. Não concordo. Acho que é um poeta lúcido. Talvez lúcido demais. Sua poesia deve ser lida como um complemento de sua filosofia, inexoravelmente atada. Talvez por isso sua Qualidade deva ser apreciada de outro ponto, que não o poético, apenas. Sua poesia deita raízes profundas, mas a poesia, essa flor exótica, tem necessidade ao mesmo tempo de sombra e luz. Ela não pode ser deixada muito tempo no escuro, senão perde o viço, e não pode viver por muito tempo também sob a luz. A poesia tem necessidade de mudança. Como qualquer outra coisa viva.
O PROBLEMA DA ARTE (1)
Dizer “satisfatório” não basta, é preciso dizer satisfatório para qual fim? E aí entramos no problema da arte. Melhor do que dizer que a arte não tem fim, é dizer que o fim da arte é ela própria. Ora, estamos supondo que toda arte é “verdadeira”, ou que toda verdadeira arte é verdadeira. Todo verdadeiro poema é um argumento significativo. Se a vida da ciência é o desejo de aprender, ninguém mais sabedor disso do que o artista. O artista sempre acha que falhou, que ele pode melhorar. “Minha melhor obra é a última”. O artista é o eterno insatisfeito. E permita-me discordar de que a arte não precisa ter coerência ou comprometimentos quaisquer a não ser imaginar, o que quer que seja.
“Não surrealista, não! Mesmo o poema mais doido
deve ter, como na prosa, alguma base firme no senso comum.”
– W. H. Auden, Poemas curtos II.
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