quinta-feira, 28 de julho de 2011

Calder


Revista Bula, 18 de setembro de 2006
Lauro Marques

CALDER

Exposição do escultor e pintor americano, famoso como inventor do móbile, Alexander Calder (1898-1976), na Pinacoteca de São Paulo, frustra um pouco pelo pequeno número de obras.

Essas peças de Calder têm em comum uma quase invisibilidade. (Há também o elemento infantil, que, se encanta por um lado, também cansa, de tão explorado que foi pela arte moderna, e que a mim, pelo menos, não me emociona tanto.) São “desenhos quadrimensionais”, como definiu o autor. Feitas geralmente de peças planas de metal suspensas por fios, elas exigem, como chegou a afirmar o crítico brasileiro, Mário Pedrosa, uma “verdadeira reeducação da sensibilidade”.

A maioria nessa exposição apresenta dimensões reduzidas e me parecem que ficam deslocadas, confinadas nas salas de iluminação muito escura; penso mesmo que, se isso não for impossível tecnicamente, estariam melhor ao ar-livre, expostas às correntes de ar, e às mudanças de luz natural, nos espaços generosos e ensolarados que tem o museu, e onde é possível conviver com as obras, de uma forma muito mais agradável e direta.

(Interessante constatar que, ao ver as fotografias da mostra, com a iluminação teatralizada, ficou ainda mais encantador do que quando estive lá, “ao vivo”.)

A exceção é uma peça maior, intitulada Viúva Negra, numa sala à parte, a qual conta com a ajuda de um ventilador instalado no teto e um projetor, para fazer a escultura literalmente bailar, por meio de um jogo de luz e sombra, com suas formas espalhadas na parede, a luz vazando pelos orifícios e lados, criando um duplo mecânico de si mesmo.

Há ainda curiosidades, como uma cópia da maquete de uma obra idealizada para a Brasília, e que segundo “entrega” o texto afixado na parede da exposição, reprodução de uma carta do autor – na qual não deixa de criticar o contraste entre a “suntosidade” dos prédios oficiais e as residências particulares na capital brasileira –, a maquete original ficou nas mãos de Oscar Niemeyer. O plano, para uma obra de 15 metros de altura para a Praça dos Três Poderes, foi apresentado por Niemeyer a Juscelino Kubitschek, mas depois disso nunca mais se ouviu falar nem no projeto, nem na maquete.

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