segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Percebo agora, por meio do informativo ensaio de Massaud Moisés, que os "Cadernos de Lanzarote", objeto de minha recente leitura, com atraso de mais de uma década desde a data em que foram escritos, fazem parte apenas do volume 1, editado pela Companhia das Letras, no Brasil, enfeixando os anos de 1993 a 95. Saiu outro, pela mesma editora, cobrindo os anos de 96 a 97. Originalmente eles compunham uma série de cinco volumes, reunidos aqui em apenas dois grossos tomos.Todos são anteriores ao Prêmio Nobel, recebido em 1998. Ao que parece, depois disso Saramago deixou de escrever esses diários ou por algum outro motivo, que me interessaria saber, ainda não os publicou.

Incrível é que, ao folheá-los, tem-se a impressão de atualidade, como já foi dito a propósito, à maneira das notícias que nos é possível acompanhar diariamente nos jornais. Estamos como diante de "um romance com uma só personagem": o escritor vivo, que respira e se move. Há, é preciso dizer, outros atores, como a mulher Pilar, as visitas que vão até Lanzarote, a própria ilha, que é uma personagem muito marcante e à parte, os amigos, escritores, e congressistas com quem trava encontros, e que fazem parte do "mundo literário" do autor, e até mesmo os cachorros que se integram à vida doméstica (sobre os quais o escritor não se refuta a tecer comentários vários, inclusive sobre a personalidade destes). Tudo isso nos é apresentado por um narrador, que participa dos fatos, mais do que os cria. Sem dúvida, porém, recriando-os através do poder da palavra e fixando um momento efêmero, num tempo em que, dada a presentidade imanente na forma em que é mostrado, ainda não terminou.

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