quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Lua nova


1
São Paulo, fim de tarde (início de noite, já sendo noite, de verão), com nuvens ameaçadoras, tranquilas, trazedoras de chuvas, e uma lua nova perfeitamente delineada.

2

Abaixo dela, indiferentes, não lhe notam os prédios monótonos e sem luzes - estranhamente desabitados, de domingos.

3

Quando o céu, turvando-se e multiplicando-se em angustiantes profundidades púrpuras e azuis, vem negar-lhe o esplendor.

4

Que vai aos poucos descobrindo os olhos convulsivos dos habitantes tragados pela cratera do Metrô.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

I like Lawrence

Eu gosto de Lawrence
Do seu verso não medido
Mas pensado
De sua vergonha em ser poeta
(O que é sem dúvida, apropriado,
Um pouco de contenção e pudor
Acompanhado de alguma dose de descaramento
Sempre é bem-vindo)
Dos seus lugares-comuns
E de apesar disso tudo
(ou talvez por isso)
De sua força
Gosto de Lawrence sem jamais ter lido
Seus romances escandalosos
I like Lawrence
Por que ele aponta um caminho
Sem ser jamais "derramado"
Mesmo quando ele de fato exagera
(Mas sobre isso posso estar enganado,
como em tudo)
I like Lawrence
Pela sua incerteza
Correndo como um cachorro louco ou como um rio
ao seu lado

B...kiana

- Talvez você não entenda, mas quando eu bebo, eu me reinvento. Pode ser que minha imaginação seja pequena, mas meu fígado é forte.

Disse isso com a maior cara de "I dont give a shit".

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Blog de Gustavo Castro

Gustavo aprimora-se no desvelamento poético da (ir)realidade cotidiana, visto por olhos míopes, quer dizer, poéticos. Vale a pena acompanhar seu diário de viajante pelos "brasis" (será que o termo já virou clichê?)acompanhado do filho pequeno:

razaopoesia

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

sábado, 6 de janeiro de 2007

mirante em santo antonio do pinhal



Quando chegamos, faltando três dias para a virada do ano, fomos recebidos por um beija-flor, preso na gaiola de vidro da casa. Fiquei admirado e encantado com a delicadeza com que ela pegou o pequeno pássaro em suas mãos e logo em seguida, sem que o minúsculo ser tivesse tempo para se debater, devolveu-o mais uma vez ao seu elemento. Pensei que não haveria melhor maneira de acabar 2006.

O calor do primeiro dia na serra foi logo substituído por uma chuva insistente e muda (como aprendi com René Char, “a chuva fina é muda”) que nos deixou levemente entristecidos.

Fomos interrompidos pelo ano-novo.

Agora, vendo distante, no tempo, as árvores altas, o pio dos pássaros e o canto dos sapos, e já “sem nenhuma montanha no olhar”, pergunto-me se tudo aquilo era real, “como um lago de montanha abandonado”, que não será jamais, já que uma das características do real é a constância.

Abro mais uma vez a página desse livro de Char (Nu Perdido e Outros Poemas), a esmo, e me consola o que está escrito: “Beleza, caminho ao teu encontro na solidão e no frio [...]. Amo você e você vive em mim”.

E pobre de tudo, menos do que escrevo, contento-me apenas em dividir o que não tenho com aquele que neste momento me lê. “Lágrimas e sorrisos são fósseis”. “O tempo rasga e poda. Um clarão dele se afasta: nossa faca”. “Que ele viva!”. Feliz 2007.