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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

RUSSIAN HISTORY/ HISTÓRIA RUSSA


The Russian Sipkov
awoke and in the New Year's Day
dug a hole in the frozen lake
and plunged, after sipping
three liters of vodka.
He left there shivering and sipped
another three liters singing
a song his grandfather
sang when he was arrested
by Stalin and sent to
a prison in Siberia - where,
on a hot day, the spit
froze in the air.

l.m.

O russo Tomaskóvic
acordou e no dia do ano novo
cavou um buraco no lago congelado
e mergulhou, após ter tomado
três litros de vodka.
Saiu de lá tiritando e tomou
mais três litros cantando
uma canção que seu avô
cantava quando foi preso
por Stalin e mandado para
uma prisão na Sibéria - onde,
num dia quente, o cuspe
congelava no ar.

l.m.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

As Eminências Pardas

No escuro elas são perigosas,
bem mais que as pessoas luminosas.
Estas, quando fazem algo de errado,
é mais fácil encontrar um culpado.

Delas podemos dizer o que são,
enquanto das primeiras, não.
Certo é que grande é sua influência,
como algo que vai na consciência.

Também pode lhes ser uma vantagem,
ninguém conhecer sua imagem;
Elas não devem ser desprezadas
pela cor, as eminências pardas.

A fim de exercer maior poder,
talvez seja melhor se esconder.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Poema de Guenádi Aigui (tradução inédita)




Mais uma vez - na neve
Guenádi Aigui
[Tradução -do francês- Lauro Marques]



você entoa uma canção - e eu me distancio
pouco a pouco na neve (como ontem: silhueta
se obscurecendo na penumbra
em algum lugar cada vez mais longe) e uma tábua quebrada se projeta para fora
lá - entre as ruínas
de uma cabana abandonada (cantando sussurrando
e
chorando há muito tempo - e ao que parece
para
a felicidade não é tão pouco) e mais ao longe a floresta
como
em sonhos
se abre - e você começa a cantar
(embora não fosse mais necessário
pois não estava tudo já terminado)
você continua
(ou mesmo sem nós profundamente amadurece já
resplandecente
a eternidade)
você continua
cada vez mais surdamente
a cantar

sábado, 17 de agosto de 2013



Hoje, como ontem
exposto aos fenômenos
corpo-
máquina, qual é
tua    —tessitura? Sentes:
este abraço, em tu-
a  
alma—?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

THE DOUBT/ A DÚVIDA








  With what ink will I write now
     that the ink-pot is emptied?
With the ink of the doubt             that
     this never dries out!


 



Com que tinta escreverei agora
     que o tinteiro esvaziou?
Com a tinta da dúvida            que
     essa não seca nunca!






LM

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A moveable feast



“Não, quem somos nós, afinal?”,
perguntou a mulher de Hemingway
encerrando uma discussão sobre
passear, preparar um lanche, beber vinho e ir para as corridas apostar em cavalos ou
empregar o dinheiro em coisas menos
dignificantes
como
comprar roupas ou
chuveiros ou
banheiras ou
vasos sanitários com descarga
no quarto.

E eu me senti, irresistivelmente,
apaixonado
pela mulher de Hemingway.


LM

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

The Truth nº 40


Lauro Marques

The truth, my friends,
the truth. 
We are everybody determined
in our impossible dream
of miracles and roses… 
Happiness and breeding! 
Even when the sound of the hammer
replaces the beating of the bells!
Not the reverse. 
This universe will never be still.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Poema de finados



Este será um grande poema

feito de pequenos acontecimentos.



Componho fragmentos no escuro, que é vida

e dou minhas fugas para a arte como quem diz chega!

e toda a tristeza do mundo nas calças do empregado de escritório com um botão faltando, a caminho do trabalho

e eu também metido em minhas “calças momentâneas”, qual Vallejo, pensando:

[Será triste ser isso?]



O pássaro enlouquecido, kamikase, num ato de desespero político e lírico, na batalha invisível, que os pássaros travam com as janelas e a cidade 

não esperou o final da Primavera e mergulhou com a cabeça para baixo no vidro da porta da sala que separa a rua da casa, com um estampido surdo, quebrando o silêncio consagrado, no dia de finados

foi condecorado por bravura e estupidez e devidamente sepultado, sem maiores ritos nem pompas

numa caixa de papelão contendo pétalas e com a seguinte inscrição: “pássaro morto, 1º de novembro de 2010”

na lata de lixo orgânico do edifício



[E a vida continua, tanto para nós como para os pássaros]



As maritacas indiferentes a tudo a não ser a si mesmas, vieram, como de costume, bicar seus grãos de girassol.



[e os empregados de trabalho.]





Poema de Lauro Marques

Fotos de Alberto Pucheu

Um poema de Rilke traduzido do francês




Poema de Rainer Maria Rilke


Traduzido do Francês por Lauro Marques


Não temas a súbita aparição
do anjo que à tua mesa sente:
as dobras alise levemente
na toalha onde repousa o pão.

Oferecerás tua refeição frugal,
para que a prove, companheiro,
que erguerá ao lábio sem mal
o simples copo costumeiro.

Reste tranquille, si soudain
l’Ange à sa table se décide:
efface doucement les quelques rides
qui fait la nappe sous ton pain.

Tu offriras ta rude nourriture,
pour qu’il en goûte à son tour,
et qu’il soulève à la lèvre pure
un simple verre de tous les jours.

domingo, 26 de junho de 2011

Ungaretti

UNGARETTI


Ser como
Ungaretti,
dizer coisas,
breve

e pleno de amor,
em uma
trincheira de
neve.


Lauro Marques





UNGARETTI

Essere come
Ungaretti,
dire le cose,
breve

e pieno d'amore,
in una
trincea di
neve.


Lauro Marques
(tradução do autor)

* * *




 VEGLIA
( cima 4 del 23 dicembre 1915 )

 Un’intera nottata
 buttato vicino
 ad un compagno
 massacrato
 con la sua bocca
 digrignata
 volta al plenilunio
 con la gestione
 delle sue mani
 penetra
 nel mio silenzio
 ho scritto
 lettere piene d’amore


 Non sono mai stato
 tanto
 attaccato alla vita


- Giuseppe Ungaretti

VIGÍLIA                                                                                       



     Uma noite inteira

     atirado ao lado

     de um camarada

     massacrado

     com a sua boca

     desgrenhada

     voltada à lua cheia

     com a congestão

     das suas mãos

     penetrada

     no meu silêncio

     escrevi 

     cartas plenas de amor
    


     Nunca me senti

     tão 

     preso à vida.



Tradução Jorge de Sena

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Um poema de Roberto Juarroz (tradução Lauro Marques)



La campana está llena de viento,
aunque no suene.
El pájaro está lleno de vuelo,
aunque esté quieto.
El cielo está lleno de nubes,
aunque esté solo.
La palabra está llena de voz,
aunque nadie la diga.
Toda cosa está llena de fugas,
aunque no haya caminos.
Todas las cosas huyen
hacia su presencia.


A campainha está cheia de vento,
ainda que não soe.
O pássaro está cheio de vôo,
ainda que esteja quieto.
O céu está cheio de nuvens,
ainda que esteja só.
A palavra está cheia de voz,
ainda que ninguém a diga.
Toda coisa está cheia de fugas,
ainda que não haja caminhos.
Todas as coisas fogem
rumo à sua presença.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Fragmentos

A paixão rompeu os laços de misericórdia.

Rumores alados puseram-se em fuga.



[Paixão - miseri-córdia/ laços-rompeu.*]
 
*Cf. lat. chorda,ae adp. do gr. khordê,ês 'tripa, corda de tripa, corda de instrumento musical' 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011

Tirésias/Tiresias

Odysseus and Tiresias in the Underworld. South Italian Red-Figure bowl . Detail: Tiresias seated holding sacrificial knife as Odysseus (left) stands by him. Bibliothéque Nationale, Paris. Dolon painter.
NÃO, POETAS
vocês não são Tirésias*,
mas falsos
profetas
a embalar os homens
em seus versos mel-
odiosos

Não, vocês também
não são
pássaros―

Porém, cuidado!
A esses,
de vez em
quando,
les perforan
los ojos

para melhor ouvir
seu canto.


TIRESIAS

NO, POETAS
vosotros no sois
Tiresias
sino falsos
profetas
al envolver a los hombres
en sus versos miel-
odiosos

No, tampoco sois
pájaros -
Por ello, ¡cuidado!
A esos
de vez en cuando
les perforan los ojos
para mejor oír
su canto.


Lauro Marques



* Tirésias, adivinho cego da cidade de Tebas e junto com Calchas, é um dos adivinhos mais célebres da mitologia grega.
*Tiresias: adivino ciego de la ciudad de Tebas y junto con Calchas, es de los adivinos más célebres de la mitología griega.


De: "Sumário de Incertezas/Resumen de Incertidumbres"", Lauro Marques. Editora Confraria do Vento, 2010
Gracías a Jorge Paolantonio por correcciones a la versíon en español.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O homem tolo/ El hombre tonto

Foto "Páteo noturno_sepia", de Lauro Marques
O homem tolo construiu castelos de gelo no verão, onde pensou em morar por muitos anos e rimou palavras a esmo para surdos-mudos e analfabetos, numa língua morta e desconhecida desde então.



O homem tolo saiu à noite com uma lanterna apagada procurando pela escuridão e só encontrou-se a si mesmo.



Esse homem tolo abriu as janelas de sua alma numa rua deserta e, no lugar de inspirar, expirou ali mesmo.

El hombre tonto construyó castillos de hielo en verano, donde pensó vivir por muchos años e hizo rimas con palabras al azar para sordomudos y analfabetos en una lengua muerta y ya para siempre desconocida.

El hombre tonto salíó de noche con una linterna apagada en busca de la oscuridad y sólo se encontró a sí mismo.

Este hombre tonto abrió las ventanas de su alma en una calle desierta y, en lugar de inspirar, expiró allí mismo.






De: "Sumário de Incertezas/Resumen de Incertidumbres"", Lauro Marques. Editora Confraria do Vento, 2010

Gracías a Jorge Paolantonio por correcciones a la versíon en español.

sábado, 28 de maio de 2011

Cronopios

HISTORIA DE CRONOPIO

 Lauro Marques

Cierta vez dijo que vio arrastrarse
por las calles de una ciudad en ruinas en la noche
un fugitivo cronopio, muy verde y muy húmedo.
(Mintió que esto sucedió en París.)

El desafortunado polichenela mendigaba
mientras sacudía sus campanas
contra el piso de adoquín
perseguido sólo por el ruido
de los gritos de los niños, el canto
de los grillos y el ladrido de los perros.

O Cão- Juan Gelman



O cão
- Juan Gelman

O poema não pede para comer. Come
os pobres pratos que
gente sem vergonha ou pudor
lhe serve no meio da noite.
A palavra divina já não existe. Que pode
fazer o poema, senão
contentar-se com o que lhe dão?
Depois uivará por aí
sem resposta, será
outro cão perdido
na cidade impiedosa.


- [Tradução Lauro Marques]


terça-feira, 24 de maio de 2011

Um poema do meu livro "Sumário de Incertezas" traduzido para o espanhol


N.



"Yo escribí hermosos libros,"

dijo Nietzsche

a su hermana nazi

loco de sífilis.

Y no dijo más nada.

Nietzsche ha muerto

(por supuesto, como Dios)

pero por lo menos escribió

sus propios libros.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Gonzalo Rojas (1917-2011)


Me diverte a morte quando passa

Me diverte a morte quando passa
em sua carruagem tão esplêndida, seguida
pela tristeza em automóveis de luxo:
se conversa do tempo, se despede
do defunto com rosas.
Cada parente agoniado
acha melhor seu vinho no almoço.


 
De: "Revelación del pensamiento". Gonzalo Rojas (1917-2011)
En Antología de aire (Santiago, Fondo de Cultura Económica, 1991)
http://www.gonzalorojas.uchile.cl/index.html

Tradução Lauro Marques