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terça-feira, 19 de abril de 2016

Tradução de César Vallejo

Hoje gosto da vida muito menos...



Vallejo em París


Hoje gosto da vida muito menos,
mas sempre gosto de viver: já dizia isto.
Quase toquei a parte do meu todo e me contive
com um tiro na língua por detrás de minha palavra.

Hoje me apalpo o queixo em retirada
e dentro dessas calças momentâneas eu me digo:
Tanta vida e jamais!
Tantos anos e sempre minhas semanas!
Meus pais enterrados com sua pedra
e seu triste crescimento ainda não acabado;
de corpo inteiro irmãos, meus irmãos,
e, por fim, meu ser parado e de colete.

Gosto da vida enormemente
mas, desde logo,
com minha morte querida e meu café
e vendo os castanheiros frondosos de Paris
e dizendo:
É um olho este, aquele; uma testa esta, aquela... E
repetindo:
Tanta vida e jamais me falha a toada!
Tantos anos e sempre, sempre, sempre!

Disse colete, disse
todo, parte, ânsia, disse quase, por não chorar.
Que é verdade que sofri naquele hospital que fica
ao lado
e está bem e está mal haver mirado
de abaixo acima meu organismo.

Gostarei de viver sempre, assim fosse de barriga,
porque, como ia dizendo e o repito,
tanta vida e jamais! E tantos anos,
e sempre, muito sempre, sempre sempre!
_______________


"Hoy me gusta la vida mucho menos..."

Poema de César Vallejo.
Tradução Lauro Marques.

São Paulo, 26 de outubro de 2010.
2h.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amuleto, Roberto Bolaño

"Metempsicosis. La poesía no desaparecerá. Su no-poder se hará visible de otra manera."
Uma das "profecias" de R. Bolaño, em "Amuleto", novela do autor, escrita em 1999, como um capítulo extraído de "Os Detetives Selvagens" que ganhou vida própria.

(Outra "profecia" é que "César Vallejo será leído em los túneles en el año 2045". Esta última eu já tratei de concretizar, pois já li, muitas vezes, César Vallejo em túneis.)

Faz parte dos delírios da personagem Auxilio Lacouture(*), escondida num banheiro da UNAM, durante uma invasão do Exército, em 1968, na Cidade do México.

Por trás, há o tema da morte - da poesia, dos poetas (seres perseguidos, fantasmagóricos, e às vezes ridículos, que gostariam de se imaginar heróicos), sua lenta e angustiada aparição e desaparição no mundo. E da memória. Da poesia como uma forma que resiste ao tempo: ela reencarnará, os poetas (ou suas obras), alguns, continuarão.

(*) Relendo essa nota, pensei que o sobrenome "La couture", que siginifica "costura", em francês, talvez seja uma chave, pode ser lido como "La culture", cultura.
"Y ese canto es nuestro amuleto"