Mostrando postagens com marcador Sumário de Incertezas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sumário de Incertezas. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Resenha no Prosa & Verso

 Resenha de 'Sumário de incertezas', de Lauro Marques


Sumário de incertezas, de Lauro Marques. Editora Confraria do Vento, R$ 19

Luciano Rosa *
Curioso (ou sintomático) o verso que abre o livro de estreia do poeta Lauro Marques: “Para mim basta”. O que soaria como senha de despedida ou indício do fim é, em "Sumário de incertezas" (Confraria do Vento), via de acesso a um universo lírico instigante, perturbador às vezes, desvelado no singular “passeio pelo paraíso ou/ Inferno/ de delícias” proposto ao leitor. Pórtico desse percurso, o poema “Intro” prenuncia o tom geral do livro: “O belo não me agrada mais”, “Entrego a ti as tuas fadas” e “Deixa-me morrer em paz/ Com meus demônios!” são versos que, articulados com a renúncia da linha inicial, sinalizam uma poética elaborada não com os artifícios consabidos e consagrados da beleza dúctil, de contornos harmoniosos, mas forjada a partir do material duro extraído do desamparo que intermedeia o contato do poeta com o mundo desolado que o abriga.

Desse embate surge uma poesia tangida por certa “alma em pânico”, a vagar por “entre prantos”, “panos sujos [e] pântanos”, “encharcada de tédio,/ que sofre muito para chegar/ num ponto qualquer”. No trajeto de quem “habituado [está] a pisar em espinhos”, a paisagem que se descortina, “à noite gris/ no meio de/ lugar nenhum”, pode ser “um descampado de natureza morta” ou “a paisagem ocre” sob “um céu sem vida”, em que “nuvens são nações de ódio”. “Nada é minha/ morada/ Tudo é só pó”, afirma o poeta em “Pária”, cujo último verso – “Nunca alcancei o outro lado” – bem simboliza a errância e a incompletude que frequentemente lhe orientam a pena.


Aparentemente infértil, tal cenário é altamente fecundo às incertezas que a poesia de Lauro Marques se propõe sumariar. “Com que tinta escreverei agora/ que o tinteiro esvaziou?/ Com a tinta da dúvida que/ essa não seca nunca!”, pergunta e sentencia o poeta em “Dúvida”. É com essa tinta perene que se grava o “impreciso canto,/ Nem formidável/ Nem novo”, mas inusitadamente belo, de Sumário de incertezas, cuja hesitação fundamental parece centrada na própria poesia e, por conseguinte, naquele que a traz à luz. Escrevendo “para poder escapar/ da mediocridade”, o poeta se questiona: “Mas, ai de mim, se o poema/ também resulta – medíocre?”. A consciência do risco essencial de seu ofício reaparece alegorizada num aforismo do general Bonaparte, mote do poema “Napoleão”: “Do sublime ao ridículo/ há apenas um passo”. Hábil em esquivar-se aos perigos dessa fronteira ínfima e oscilante, Marques manifesta notável capacidade de conjugar delicada sensibilidade com alta potência lírica, combinação que resulta em fulgurações poéticas de fina beleza. É o que se vê, por exemplo, em poemas como “Agora”, “Pensamento” e “Elegia (outono)”.

Interessado não apenas em compendiar dúvidas, "Sumário de incertezas" é também profícuo inventário de perdas e interdições: um “salto que nós nunca demos”, uma “estrada/ que nunca/ pisei”, “um porto/ que já não alcanço”, uns “olhos que não dão mirada” e outras denegações são despojos que servem de matéria a uma poética em boa parte brotada da inviabilidade. Impelida por uma “ânsia/ de chegar/ a nenhum lugar”, a lírica de Lauro Marques parece gestada num “intervalo infinito” em que tudo é “olvido e névoa”. “E apesar disso tudo/ (ou talvez por isso)”, essa poesia – “ao mesmo tempo sublime, banal e verdadeira” – aciona sugestivo repertório imagético, responsável em grande medida pelo vigor dos poemas.

"Sumário de incertezas" configura-se ainda como uma espécie de súmula de referências a delinear a filiação intelectual de Marques, que a certa altura assevera: “A poesia é um longo e interminável diálogo entre poetas, no qual se entra como num rio caudaloso”. A correnteza dos ingleses – Shakespeare, D. H. Lawrence, William Blake, Malcolm Lowry – aparece com força, muito embora outros afluentes – Ungaretti, Rilke, Pound, Rimbaud – mostrem-se também influentes. Do colóquio com as artes plásticas nasce “Tríptico de Bacon” (sobre “Três estudos para figuras na base de uma crucificação”, de Francis Bacon), um dos momentos altos do livro. A intensa interlocução do poeta com seus pares e com criadores de outras artes revela um lastro cultural que em nada se confunde com a fátua afetação muita vez camuflada sob o brilho falso da erudição de almanaque. No caso de Marques, são sinais que ajudam a mapear-lhe a linhagem poética e tornam mais claro seu pensamento lírico.

Se “Arte é o que vale a pena” (como lemos em “A parte”), "Sumário de incertezas" é, indubitavelmente, boa aposta de leitura. No contato com essa poesia ora aflita, ora “leve/ como uma cerveja weiss” – “pluma temerosa a fender o espaço” –, a pena é muitíssimo bem recompensada. E a qualidade dos poemas “é a parte/ que cabe a cada leitor descobrir”.

LUCIANO ROSA é doutorando em Letras pela UFRJ, pesquisador da literatura brasileira do século XX, organizador do volume "Anos 40" da coleção Roteiro da Poesia Brasileira e os "Melhores Contos de Aurélio Buarque de Holanda", ambos da editora Global.



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

THE DOUBT/ A DÚVIDA








  With what ink will I write now
     that the ink-pot is emptied?
With the ink of the doubt             that
     this never dries out!


 



Com que tinta escreverei agora
     que o tinteiro esvaziou?
Com a tinta da dúvida            que
     essa não seca nunca!






LM

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Thought / Pensamento

But we can't
avoid the dew
when evening falls -
thought is like a landing.
Again and again at
the same point,
being different.
What has changed
in the mean-
time between a verse and
another, what can I
say of your
eyes?



PENSAMENTO

Mas não podemos
evitar
o sereno
quando a tarde cai –
o pensamento é como um pouso.
De novo e sempre
no mesmo ponto,
sendo diferente.
O que mudou nesse meio-
tempo entre um verso e
outro, que posso Eu
dizer de seus
olhos?





LM

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

Ungaretti

UNGARETTI


Ser como
Ungaretti,
dizer coisas,
breve

e pleno de amor,
em uma
trincheira de
neve.


Lauro Marques





UNGARETTI

Essere come
Ungaretti,
dire le cose,
breve

e pieno d'amore,
in una
trincea di
neve.


Lauro Marques
(tradução do autor)

* * *




 VEGLIA
( cima 4 del 23 dicembre 1915 )

 Un’intera nottata
 buttato vicino
 ad un compagno
 massacrato
 con la sua bocca
 digrignata
 volta al plenilunio
 con la gestione
 delle sue mani
 penetra
 nel mio silenzio
 ho scritto
 lettere piene d’amore


 Non sono mai stato
 tanto
 attaccato alla vita


- Giuseppe Ungaretti

VIGÍLIA                                                                                       



     Uma noite inteira

     atirado ao lado

     de um camarada

     massacrado

     com a sua boca

     desgrenhada

     voltada à lua cheia

     com a congestão

     das suas mãos

     penetrada

     no meu silêncio

     escrevi 

     cartas plenas de amor
    


     Nunca me senti

     tão 

     preso à vida.



Tradução Jorge de Sena

segunda-feira, 13 de junho de 2011

sábado, 28 de maio de 2011

Cronopios

HISTORIA DE CRONOPIO

 Lauro Marques

Cierta vez dijo que vio arrastrarse
por las calles de una ciudad en ruinas en la noche
un fugitivo cronopio, muy verde y muy húmedo.
(Mintió que esto sucedió en París.)

El desafortunado polichenela mendigaba
mientras sacudía sus campanas
contra el piso de adoquín
perseguido sólo por el ruido
de los gritos de los niños, el canto
de los grillos y el ladrido de los perros.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Um poema do meu livro "Sumário de Incertezas" traduzido para o espanhol


N.



"Yo escribí hermosos libros,"

dijo Nietzsche

a su hermana nazi

loco de sífilis.

Y no dijo más nada.

Nietzsche ha muerto

(por supuesto, como Dios)

pero por lo menos escribió

sus propios libros.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sumário de Incertezas, na Caros Amigos

Meu livro "Sumário de Incertezas" na lista de leituras do jornalista Renato Pompeu, na edição de fevereiro, 167, da Revista Caros Amigos (coluna "Ideias de botequim", p. 45):

"A poesia [brasileira] tem bons momentos no pequeno volume Sumário de Incertezas, de Lauro Marques, editado pela Confraria do Vento. Exemplos: 'Para mim basta/ O brilho das coisas vencidas./ O belo não me agrada mais.' e 'Tem da natureza inseta/ a atração/ por luzes/ pelo perfume das flores/ e das bebidas.'"

Leia também:
 

domingo, 23 de janeiro de 2011

Comentário de Antonio Carlos Secchin sobre o livro "Sumário de Incertezas"

"De um ou outro modo, praticamente todos os poemas surpreendem, pelo despojamento aliado à inventividade imagística e intensidade lírica".

Mensagem do doutor em letras pela UFRJ,  professor de Literatura Brasileira das universidades de Bordeaux, (1975-1979), Roma (1985), Rennes (1991), Mérida (1999), Nápoles (2007), Paris-Sorbonne (2009) e da Faculdade de Letras da UFRJ, crítico e poeta, da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin, comentando o recebimento e leitura do meu livro Sumário de Incertezas, Confraria do Vento, 2010.
 
Leia o perfil de Antonio Carlos Secchin no site da Academia Brasileira de Letras.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Do que não escapam os poetas |Resenha de Sumario de Incertezas

"Inscreve-se, escreve-se como quem morre. Vive-se a morte que nos vive. Está escrito. “Cada um se mata o suficiente para continuar vivo”, dizia o poeta Pio Vargas, que, de súbito, se matou. "



Texto completo aqui:

Do que não escapam os poetas |Resenha de Sumario de Incertezas |Revista Bula


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Cidade a Travessa 19/11 na Casa das Rosas

Sexta-feira 19/11, na Casa das Rosas, Avenida Paulista, 37, a partir das 18h, a Cidade a Travessa: megaevento da Confraria do Vento em São Paulo. Leituras, lançamento de livros (Ronaldo Ferrito, Lauro Marques, Victor Paes, Bárbara Lia e Berimba Jesus), performances e entrevistas. Vão servir absinto. Leve sua capa de chuva e prepare-se.

À venda no site da editora, Livraria Cultura e Martins Fontes:
http://www.confrariadovento.com/editora/livro27.htm

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=22379071&uid

http://www.martinsfontespaulista.com.br/ch/prod/382160/sumario-de-incertezas.aspx


domingo, 14 de novembro de 2010

Lançamento do meu livro no dia 19/11 na Casa das Rosas/SP

Foto original da capa por James Emery
 Capa do meu livro de poesia Sumário de Incertezas".
Editora Confraria do Vento, 2010.

À venda no site da editora, na Livraria Cultura e Martins Fontes:
http://www.confrariadovento.com/editora/livro27.htm

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=22379071&uid

http://www.martinsfontespaulista.com.br/ch/prod/382160/sumario-de-incertezas.aspx


Lançamento: 19/11 na CASA DAS ROSAS, Avenida Paulista, 37, das 18h às 22h.

Dentro do evento "Cidade a Travessa", promovido pela Editora Confraria do Vento.