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sexta-feira, 15 de julho de 2016

“Tal Qual” – Paul Valéry

Tradução: Lauro Marques




Literatura

Os livros têm os mesmos inimigos que os homens; o fogo, a umidade, as feras, o tempo; e seu próprio conteúdo.

*

O pensamento tem dois sexos; fecunda-se e fica grávido de si mesmo.

*

Preâmbulo.

A existência da poesia é essencialmente negável; do que podemos extrair as tentações próximas da arrogância. - Sobre esse ponto, ela se assemelha ao próprio Deus.

Podemos estar surdos quanto a ela, cegos quanto a Ele - as consequências são insensíveis.

Mas isso que todo mundo pode negar e que queremos que haja - se torna o centro e o símbolo poderoso de nossa razão de sermos nós.

*

Um poema deve ser uma festa do Intelecto. Ele não pode ser outra coisa.

Festa: é um jogo, e no entanto, solene, regrado, significativo; imagem daquilo que não temos de ordinário, do estado em que os esforços são ritmos, recuperados.

Celebramos algo quando o realizamos ou o representamos no seu estado mais puro ou mais belo.

Aqui, a faculdade da linguagem, e seu fenômeno contrário, a compreensão, a identidade das coisas que ela separa. Descartamos suas misérias, suas fraquezas, seu cotidiano. Nós organizamos todo o possível da linguagem.

Terminada a festa, nada deve restar. Cinzas, guirlandas pisadas.

*

Para o poeta:
A orelha fala,
A boca escuta;
É a inteligência, a vigília, que infantiliza e sonha
É o sono que vê claro;
É a imagem e o fantasma que observam,
É a falta e a lacuna que criam.

*

A maioria dos homens têm da poesia uma idéia tão vaga que essa imprecisão mesma de sua idéia é para eles a definição da poesia.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Tradução de César Vallejo

Hoje gosto da vida muito menos...



Vallejo em París


Hoje gosto da vida muito menos,
mas sempre gosto de viver: já dizia isto.
Quase toquei a parte do meu todo e me contive
com um tiro na língua por detrás de minha palavra.

Hoje me apalpo o queixo em retirada
e dentro dessas calças momentâneas eu me digo:
Tanta vida e jamais!
Tantos anos e sempre minhas semanas!
Meus pais enterrados com sua pedra
e seu triste crescimento ainda não acabado;
de corpo inteiro irmãos, meus irmãos,
e, por fim, meu ser parado e de colete.

Gosto da vida enormemente
mas, desde logo,
com minha morte querida e meu café
e vendo os castanheiros frondosos de Paris
e dizendo:
É um olho este, aquele; uma testa esta, aquela... E
repetindo:
Tanta vida e jamais me falha a toada!
Tantos anos e sempre, sempre, sempre!

Disse colete, disse
todo, parte, ânsia, disse quase, por não chorar.
Que é verdade que sofri naquele hospital que fica
ao lado
e está bem e está mal haver mirado
de abaixo acima meu organismo.

Gostarei de viver sempre, assim fosse de barriga,
porque, como ia dizendo e o repito,
tanta vida e jamais! E tantos anos,
e sempre, muito sempre, sempre sempre!
_______________


"Hoy me gusta la vida mucho menos..."

Poema de César Vallejo.
Tradução Lauro Marques.

São Paulo, 26 de outubro de 2010.
2h.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Novo livro de poesia

Meu segundo livro de poesia, na Amazon. 93 p (tamanho Ebook). Pode ser lido em qualquer dispositivo, celular, tablet ou computador. Quem escreveu, editou, diagramou, sofreu, gozou, revisou e fez a foto da capa fui eu mesmo. Para pagar toda essa equipe o livro custa R$ 17,54 , dos quais 70% são para mim, 30% para a Amazon, justíssimo. Se não vender nada, hipótese mais que provável, meu prejuízo será zero também. Também pode ser lido de graça através de cadastro na Amazon. Brasil, pátria educadora.

sábado, 8 de março de 2014

O abismo de Pessoa



Mise en abîme. Procedimento que consiste em incrustar uma imagem dentro dela mesma, representar uma obra dentro de uma obra de um mesmo tipo, que remonta ao princípio dos fractais ou da recursividade na matemática.

Em literatura, o “pôr-se em abismo” é a técnica utilizada pelo escritor que escreve um romance sobre o escritor que escreve um romance, como no primeiro livro de André Gide: “Os Cadernos e as Poesias de André Walter”. Assim como em “Os Moedeiros Falsos”, obra da maturidade de Gide, o próprio romance está sendo escrito dentro da obra de mesmo nome em que é contado.

Indo um pouco além das definições enciclopédicas, de todos os artistas talvez o poeta seja o ser que mais está sempre a cada momento “colocando-se em abismo”. Isto é, ele está o tempo todo representando para si mesmo o ato de escrever o poema e a si mesmo nesse ato. Ele exercita o tempo todo aquilo que Octavio Paz chamou de “outridade” ―resumida na famosa frase de Rimbaud: “Je est un autre”, eu sou um outro, o “eu” é um outro.

Este “eu” de que falam tantos poemas sempre é um retrato de um outro, um “eu” que precisa ser representado na forma desse outro, e só aparece por meio da linguagem.

O “eu” é um outro, meu abismo é o seu abismo e ambos podemos nos reconhecer. Ou talvez nele venhamos a nos perder.

A “outridade” do poeta não é senão “colocação em abismo”, mise en abîme.

(Para ser inteiro é preciso ser outro. E nunca se pode ser inteiramente inteiro, sem ser outro. Donde, nunca se pode ser inteiro.)

O verdadeiro “eu” está em outra parte ou está em parte nenhuma ―o que é o mesmo que dizer que está em toda a parte.

O verdadeiro “eu” é uma ficção. Fernando Pessoa, o mais “abismal” dos poetas foi talvez quem melhor compreendeu isso, e que se declarou, pela voz do heterônimo (sempre pela voz do heterônimo) Bernardo Soares, um “espectador irônico” de si mesmo. E é também Bernardo Soares, no Livro do Desassossego, que se rebela contra o escritor Fernando Pessoa, que o escreve escrevendo contra a necessidade de se recompor, para que venha a existir, como linguagem, para nós, destruindo-se enquanto unidade autônoma aparente: “Tornei-me uma figura de livro, uma vida lida. O que sinto é (sem que o queira) sentido para se escrever que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto recompor-me destruí-me. De tanto pensar, sou já meus pensamentos mas não eu. Sondei-me e deixei cair a sonda; vivo a pensar se sou fundo ou não, sem outra sonda agora senão o meu próprio olhar que me mostra, claro a negro no espelho do poço alto, meu próprio rosto que me contempla a contemplá-lo”.

Mise en abîme infernal e vertiginoso em que criador e criatura se fundem e se separam num jogo de espelhos infinito, e a solução para o problema formulado nunca é dada.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Resenha no Prosa & Verso

 Resenha de 'Sumário de incertezas', de Lauro Marques


Sumário de incertezas, de Lauro Marques. Editora Confraria do Vento, R$ 19

Luciano Rosa *
Curioso (ou sintomático) o verso que abre o livro de estreia do poeta Lauro Marques: “Para mim basta”. O que soaria como senha de despedida ou indício do fim é, em "Sumário de incertezas" (Confraria do Vento), via de acesso a um universo lírico instigante, perturbador às vezes, desvelado no singular “passeio pelo paraíso ou/ Inferno/ de delícias” proposto ao leitor. Pórtico desse percurso, o poema “Intro” prenuncia o tom geral do livro: “O belo não me agrada mais”, “Entrego a ti as tuas fadas” e “Deixa-me morrer em paz/ Com meus demônios!” são versos que, articulados com a renúncia da linha inicial, sinalizam uma poética elaborada não com os artifícios consabidos e consagrados da beleza dúctil, de contornos harmoniosos, mas forjada a partir do material duro extraído do desamparo que intermedeia o contato do poeta com o mundo desolado que o abriga.

Desse embate surge uma poesia tangida por certa “alma em pânico”, a vagar por “entre prantos”, “panos sujos [e] pântanos”, “encharcada de tédio,/ que sofre muito para chegar/ num ponto qualquer”. No trajeto de quem “habituado [está] a pisar em espinhos”, a paisagem que se descortina, “à noite gris/ no meio de/ lugar nenhum”, pode ser “um descampado de natureza morta” ou “a paisagem ocre” sob “um céu sem vida”, em que “nuvens são nações de ódio”. “Nada é minha/ morada/ Tudo é só pó”, afirma o poeta em “Pária”, cujo último verso – “Nunca alcancei o outro lado” – bem simboliza a errância e a incompletude que frequentemente lhe orientam a pena.


Aparentemente infértil, tal cenário é altamente fecundo às incertezas que a poesia de Lauro Marques se propõe sumariar. “Com que tinta escreverei agora/ que o tinteiro esvaziou?/ Com a tinta da dúvida que/ essa não seca nunca!”, pergunta e sentencia o poeta em “Dúvida”. É com essa tinta perene que se grava o “impreciso canto,/ Nem formidável/ Nem novo”, mas inusitadamente belo, de Sumário de incertezas, cuja hesitação fundamental parece centrada na própria poesia e, por conseguinte, naquele que a traz à luz. Escrevendo “para poder escapar/ da mediocridade”, o poeta se questiona: “Mas, ai de mim, se o poema/ também resulta – medíocre?”. A consciência do risco essencial de seu ofício reaparece alegorizada num aforismo do general Bonaparte, mote do poema “Napoleão”: “Do sublime ao ridículo/ há apenas um passo”. Hábil em esquivar-se aos perigos dessa fronteira ínfima e oscilante, Marques manifesta notável capacidade de conjugar delicada sensibilidade com alta potência lírica, combinação que resulta em fulgurações poéticas de fina beleza. É o que se vê, por exemplo, em poemas como “Agora”, “Pensamento” e “Elegia (outono)”.

Interessado não apenas em compendiar dúvidas, "Sumário de incertezas" é também profícuo inventário de perdas e interdições: um “salto que nós nunca demos”, uma “estrada/ que nunca/ pisei”, “um porto/ que já não alcanço”, uns “olhos que não dão mirada” e outras denegações são despojos que servem de matéria a uma poética em boa parte brotada da inviabilidade. Impelida por uma “ânsia/ de chegar/ a nenhum lugar”, a lírica de Lauro Marques parece gestada num “intervalo infinito” em que tudo é “olvido e névoa”. “E apesar disso tudo/ (ou talvez por isso)”, essa poesia – “ao mesmo tempo sublime, banal e verdadeira” – aciona sugestivo repertório imagético, responsável em grande medida pelo vigor dos poemas.

"Sumário de incertezas" configura-se ainda como uma espécie de súmula de referências a delinear a filiação intelectual de Marques, que a certa altura assevera: “A poesia é um longo e interminável diálogo entre poetas, no qual se entra como num rio caudaloso”. A correnteza dos ingleses – Shakespeare, D. H. Lawrence, William Blake, Malcolm Lowry – aparece com força, muito embora outros afluentes – Ungaretti, Rilke, Pound, Rimbaud – mostrem-se também influentes. Do colóquio com as artes plásticas nasce “Tríptico de Bacon” (sobre “Três estudos para figuras na base de uma crucificação”, de Francis Bacon), um dos momentos altos do livro. A intensa interlocução do poeta com seus pares e com criadores de outras artes revela um lastro cultural que em nada se confunde com a fátua afetação muita vez camuflada sob o brilho falso da erudição de almanaque. No caso de Marques, são sinais que ajudam a mapear-lhe a linhagem poética e tornam mais claro seu pensamento lírico.

Se “Arte é o que vale a pena” (como lemos em “A parte”), "Sumário de incertezas" é, indubitavelmente, boa aposta de leitura. No contato com essa poesia ora aflita, ora “leve/ como uma cerveja weiss” – “pluma temerosa a fender o espaço” –, a pena é muitíssimo bem recompensada. E a qualidade dos poemas “é a parte/ que cabe a cada leitor descobrir”.

LUCIANO ROSA é doutorando em Letras pela UFRJ, pesquisador da literatura brasileira do século XX, organizador do volume "Anos 40" da coleção Roteiro da Poesia Brasileira e os "Melhores Contos de Aurélio Buarque de Holanda", ambos da editora Global.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Um poema de Gelman e uma tentativa de tradução crítica

O poeta e o tradutor na arena da poesia

El tajo

La poesía no hace
que algo suceda, dijo W. H. Auden.
Apenas sobrevive, dijo.
No dijo por qué. Sobrevive como
sobrevive la imposibilidad.
Es decir, nuestro amor,
o el bisonte que hace cruces en la arena
olvidado de sus dientes de leche.
Es bello eso. Significa
que el frío de conocerse
puede tener otro destino.
Lo que nadie dijo
está bajo las máscaras
que la verdad necesita.
Mis ganas de dar besos y palabras
son un cuarto muy grande donde
se sienta absurdamente el corazón.
Es decir, sobrevive.
En el tajo de sus corrientes extrañas.

Juan Gelman


Uma tentativa de tradução:

O talho

A poesia não faz
com que algo suceda, disse W. H. Auden.
Apenas sobrevive, disse.
Não disse por quê. Sobrevive como
sobrevive a impossibilidade.
Quer dizer, nosso amor,
ou o bisonte que recruza a arena
esquecido de seus dentes de leite.
É belo isso. Significa
que o frio de conhecer-se
pode ter outro destino.
O que ninguém disse
está sob as máscaras
que a verdade necessita.
Minhas ganas de dar beijos e palavras
são um quarto muito grande onde
assenta-se absurdamente o coração.
Quer dizer, sobrevive.
No talho de suas correntes estranhas.

Lauro Marques

O poema é riquíssimo em analogias semiocultas ou caladas (que ninguém disse).
 
"Talho" aqui é sulco (como o rastro de um rio de "correntes estranhas") e ferida, rasgo (a imagem evocada pelo bisonte/touro).

O bisonte "faz cruzes", cruza, ou perambula pela areia (arena) esquecido de seus "dentes de leite" (de sua juventude/fragilidade), que tanto pode ser uma demonstração de coragem - não podemos resistir aqui a sublinhar a sugestão implícita de 'hace cruces"/"hace muertes" -, como de desorientação, embotamento ou desconhecimento de si.

O coração se senta e assenta-se num quarto muito grande onde se sente o coração.

Assenta-se absurdamente (a imagem é de inadequação, desconforto ou desproporção). Ou, dito de outra forma: o coração é pequeno demais para conter os desejos do poeta, que apesar disso, sobrevive, como a poesia e o touro na arena e a impossibilidade do amor.  

domingo, 24 de julho de 2011

Notas de Estética

BIOPOEÍSIS



Poeta bom é poeta morto. Sempre penso nisso quando ouço falar de fulano de tal, o maior poeta vivo. Mesmo correndo o risco, ouso afirmar que, para nós, Fernando Pessoa ainda é o mais importante. Pegue um volume qualquer das obras dele, dificilmente achará pessoas mais vivas na rua. (O trocadilho é completamente intencional). Outro vivíssimo, para mim, é Nietzsche. Dizem que foi mau poeta. Não concordo. Acho que é um poeta lúcido. Talvez lúcido demais. Sua poesia deve ser lida como um complemento de sua filosofia, inexoravelmente atada. Talvez por isso sua Qualidade deva ser apreciada de outro ponto, que não o poético, apenas. Sua poesia deita raízes profundas, mas a poesia, essa flor exótica, tem necessidade ao mesmo tempo de sombra e luz. Ela não pode ser deixada muito tempo no escuro, senão perde o viço, e não pode viver por muito tempo também sob a luz. A poesia tem necessidade de mudança. Como qualquer outra coisa viva.



O PROBLEMA DA ARTE (1)



Dizer “satisfatório” não basta, é preciso dizer satisfatório para qual fim? E aí entramos no problema da arte. Melhor do que dizer que a arte não tem fim, é dizer que o fim da arte é ela própria. Ora, estamos supondo que toda arte é “verdadeira”, ou que toda verdadeira arte é verdadeira. Todo verdadeiro poema é um argumento significativo. Se a vida da ciência é o desejo de aprender, ninguém mais sabedor disso do que o artista. O artista sempre acha que falhou, que ele pode melhorar. “Minha melhor obra é a última”. O artista é o eterno insatisfeito. E permita-me discordar de que a arte não precisa ter coerência ou comprometimentos quaisquer a não ser imaginar, o que quer que seja.



Não surrealista, não! Mesmo o poema mais doido


deve ter, como na prosa, alguma base firme no senso comum.”

– W. H. Auden, Poemas curtos II.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O MURMÚRIO DO MUNDO_ Notas sobre poesia


Revista Bula, 4 de setembro de 2006

 
O MURMÚRIO DO MUNDO

O que eu admiro nos poetas, como já escrevi em outra ocasião, não é sua provável “riqueza interior”, mas sim a sua imensa generosidade. Os grandes criadores são também “esbanjadores” (Nietzs.). Encho minha taça para que ela transborde. Meus sentimentos pessoais, esses morrerão comigo, pois são incomunicáveis. Justamente por isso que um poema nunca é só uma questão de sentimento, e “construir um poema que contém unicamente poesia é impossível. Se uma obra contém apenas poesia, ela não é constituída; não é um poema” (Paul Valéry ).

“O poema não é nem uma descrição, nem uma expressão. Tampouco é uma pintura comovida da extensão do mundo. O poema é uma operação” (Alain Badiou, sobre Mallarmé).


SILENCIEMOS, POIS SIM, MAS NA LINGUAGEM

Ela caminha em minha direção, vinda de não sei onde, que a apanhei. Eu a pus para andar, soprei ar nos seus pulmões, dei-lhe um nome incógnito para protegê-la. Eu a falei.

Agora ela é sua. Trate-a bem.

_____________

Aos poetas do “subconsciente”, que acreditam poder haver poesia apenas dentro de suas mentes, de forma emudecida, egoística, “não trabalhada”, ou “bruta”, eu afirmo: a “linguagem fala” (Heidegger) porque o signo-objeto-mundo fala. Escutemos.

Agora, digam o que quiserem, mas falem. Sejam imperfeitos e corajosos, falem de imagens e de silêncio, desertos, securas, pedras quebradas, mas falem, criem o poema.

Ou eu não vou poder nunca saber quem (ou o que) são vocês.


A POESIA PRECISA SER COMUNICADA

Subconsciente, na definição do Houaiss “é o conjunto dos fatos ou vivências pouco conscientes, ou que estão fora do limiar da consciência atual, ou aos quais ela não pode ter acesso”. Isso constitui a “matéria bruta” para um tipo de fazer poético? (1)

Vejamos: o subsconsciente “brota” em alguns poemas, imagens oníricas podem ser “projeções” inconscientes (pensem na figura que acompanha uma determinada poeta, de um unicórnio cavalgando numa noite enluarada...). A poesia realmente é rica em revelar imagens que estavam lá no fundo de nossa consciência, esperando para vir à tona. Os surrealistas buscaram através da escrita automática e outros processos, dar vazão especialmente a esse tipo de imagem. É algo que está sempre no âmago de nossos processos criativos e conscientes – assunto para uma possível "psicologia da arte".


“POETA” SIGNIFICA “FAZEDOR” EM GREGO

Um poeta que eu li pouco, porque só conheci muito recentemente, mas gosto muito, pela forma sintética e a força de seus poemas, Samuel Menashe (2), diz que “caminha” um poema até que esteja pronto. Ele o pensa enquanto anda, constrói na própria cabeça antes mesmo de escrevê-lo. “Eu não sinto que estou escrevendo”, afirma, “– mas talvez esculpindo. Você sabe, ‘poeta’ significa ‘fazedor’ em grego. Algumas vezes eu me sinto como alguém trabalhando num problema algébrico, e prestes a chegar a uma conclusão, e esta tem de estar perfeitamente balanceada’” (3). A etapa de passar para o papel é a que eu considero a mais difícil; é aí que eu sinto que as palavras ganham vida própria, o acaso intervém, algo fora de nós, uma folha de árvore voando... e aquilo passa a fazer parte do poema.


Promised Land
Terra Prometida

At the edge
À beira de
Of a world
Um mundo
Beyond my eyes
Além dos meus olhos
Beautiful
Lindo
I
know Exile
Eu sei que o Exílio
Is always
Sempre é
Green with hope –
Verdesperançado –
The river
O rio
We cannot cross
Não atravessado flui
Flows forever
Incessantemente


 - Samuel Menashe (tradução: Lauro Marques)

(1) Sirvo-me aqui, como em outras partes, de questionamentos surgidos dentro do grupo de estudos virttual Razão-Poesia, do qual participei, formado, dentro outros, pelos professores Gustavo Castro e Florence Dravet, de Brasília.

(2) Samuel Menashe nasceu na cidade de Nova Iorque em 1925. Em 1943 se alistou e foi mandado para a Escola de Infantaria em Fort Benning, no Estado da Geórgia (EUA). Após treinamento na Inglaterra, sua divisão lutou na França, Bélgica (A Batalha do Bulge), e Alemanha. Em 1950 foi agraciado com o título de doutor pela Universidade de Sorbonne. Seu primeiro livro, The Many Named Beloved, foi publicado em Londres em 1961.
Fonte: Revista Rattapallax

(3) New York Times (Publicado em: 10 de outubro de 2003). 


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Variações sobre a identidade



Traduções e notas

Tradução (1) "Os cadernos e as poesias de André Walter" - André Gide.
25 de abril

Não compreenderão este livro, os que procuram pela felicidade. A alma não está satisfeita; ela adormece nas felicidades. É o repouso, não a vigília! É preciso velar. A alma ativa, eis o desejável ― e que encontre sua felicidade, de nenhum modo na FELICIDADE, mas no sentimento de sua atividade violenta. ― Portanto a dor mais que o júbilo, pois ela torna a alma mais viva; quando a alma não prosterna, as vontades se lhe exasperam: sofremos, mas o orgulho de viver poderosamente afasta as fraquezas. A vida intensa, eis a soberba: eu não trocaria a minha vida por a de nenhum outro, eu aqui vivi várias vidas, e a real foi a menos importante.

Intensificar a vida e guardar a alma vigilante: então ela não mais se lamentará, indolente, mas lhe agradará a própria nobreza.

* * *
O autor -André Gide- assinala o ano de 25 de abril de 1889 para este trecho. Data em que, no romance, publicado em 1891, o personagem escreve no seu diário. O fragmento faz parte do Caderno Branco, uma das seções (a outra é o Caderno Negro) em que se subdivide o romance de estréia de Gide intitulado "Os cadernos e poesias de André Walter".

Em nota, o editor da versão original em francês, Claude Martin, assinala que a frase que encerra o primeiro parágrafo contém uma “idéia essencial à Gide, que está na própria raiz de sua criação romanesca, nutrida das ‘direções infinitas de sua vida possível’, ao mesmo tempo que ‘o romancista fictício criou seus personagens com a linha única de sua vida real’, seguindo uma fórmula de Albert Thibaudet e suas Reflexões sobre o romance, Paris: Gallimard, 1938, p 12] retomada por Gide no final de seu Diário dos Moedeiros Falsos [Paris NRF, 1927, p 113] , um dia após ter colocado o ponto final no seu romance”.

No diário de Édouard, personagem do romance de Gide em Os Moedeiros Falsos, Círculo do Livro: tradução de Celina Portocarrero, p. 62, este também escreve: “Nunca sou senão aquilo que acredito ser ― e isso varia sem cessar, de modo que frequentemente, se eu não estivesse aqui para aproximá-los, meu ser da manhã não reconheceria o da tarde. Nada pode ser mais diferente de mim do que eu mesmo.”E, continuando: Nada para mim tem realidade, senão poética (e atribuo a essa palavra seu sentido pleno) ― a começar por mim mesmo. Parece-me às vezes que não existo realmente, mas que simplesmente imagino que sou. Aquilo em que mais custo a crer é em minha própria realidade.”

Tradução (2). "Coisas inauditas". Paul Valéry
Variações sobre Descartes
  Às vezes eu penso; e às vezes, eu sou.

*

Se um ser não pudesse viver uma outra vida diferente da sua, ele não poderia viver a própria vida.

Pois a sua vida não é feita senão de uma infinidade de acidentes, cada um dos quais podendo pertencer a uma outra vida.

*
Si mesmo
 Quanto mais uma consciência é “consciente” mais sua personalidade, mais suas opiniões, seus atos, suas características, seus sentimentos lhe parecem estranhos, ― estrangeiros. Ela tenderia então a dispor do que ela tem de mais próprio e pessoal como coisas exteriores e acidentais.

Decerto é preciso que eu tenha opiniões; hábitos, um nome, afetos, repulsões, tanto quanto a parede de meu quarto tenha uma certa cor. Tudo isso não é mais meu do que a luz pertence a essa cor. Ela poderia iluminar o que quer que fosse.

― Como te chamas?

― Eu não sei...

Tua idade?... Eu não sei...Onde nasceste? Não sei...Profissão? Não sei... Está bem: Tu és eu mesmo.
Traduções de Lauro Marques

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O homem tolo/ El hombre tonto

Foto "Páteo noturno_sepia", de Lauro Marques
O homem tolo construiu castelos de gelo no verão, onde pensou em morar por muitos anos e rimou palavras a esmo para surdos-mudos e analfabetos, numa língua morta e desconhecida desde então.



O homem tolo saiu à noite com uma lanterna apagada procurando pela escuridão e só encontrou-se a si mesmo.



Esse homem tolo abriu as janelas de sua alma numa rua deserta e, no lugar de inspirar, expirou ali mesmo.

El hombre tonto construyó castillos de hielo en verano, donde pensó vivir por muchos años e hizo rimas con palabras al azar para sordomudos y analfabetos en una lengua muerta y ya para siempre desconocida.

El hombre tonto salíó de noche con una linterna apagada en busca de la oscuridad y sólo se encontró a sí mismo.

Este hombre tonto abrió las ventanas de su alma en una calle desierta y, en lugar de inspirar, expiró allí mismo.






De: "Sumário de Incertezas/Resumen de Incertidumbres"", Lauro Marques. Editora Confraria do Vento, 2010

Gracías a Jorge Paolantonio por correcciones a la versíon en español.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Quadra ao gosto popular

Que posso fazer se sou só sombra?
Uma sombra passa - eis tudo.
Meu único prazer é não ser somente eu
Uma sombra neste mundo!

terça-feira, 22 de março de 2011

Sumário de Incertezas, na Caros Amigos

Meu livro "Sumário de Incertezas" na lista de leituras do jornalista Renato Pompeu, na edição de fevereiro, 167, da Revista Caros Amigos (coluna "Ideias de botequim", p. 45):

"A poesia [brasileira] tem bons momentos no pequeno volume Sumário de Incertezas, de Lauro Marques, editado pela Confraria do Vento. Exemplos: 'Para mim basta/ O brilho das coisas vencidas./ O belo não me agrada mais.' e 'Tem da natureza inseta/ a atração/ por luzes/ pelo perfume das flores/ e das bebidas.'"

Leia também:
 

quarta-feira, 16 de março de 2011

Dois poemas de Valdivino Braz


Os velhos lobos do mar



As gaivotas

De sol e nuvens, um céu de ouro e sangue, o arrebol do entardecer. Os gritos melancólicos, de solitárias gaivotas, sobrevoando as carcaças dos barcos. Parecem dizer que o tempo a tudo trespassa, e tudo se esgota. Parecem gritos de alerta, que o dia cessa e se aproxima a hora escura. Parecem avisar que ali vem as sombras a cobrir o mundo e fechar as portas. Parecem deduzir que vão cerrar-se as cortinas dos quartos, que vem a noite por cima estender-se e cobrir a nudez dos corpos. Parecem gritar que a hora é essa, que a vida é só essa, não há outra. Parece que a vida vai sair pela porta dos fundos, o coração a saltar pela boca. Gritam as gaivotas, e serão outras ao amanhecer, com o mar a derramar-se de peixes mortos. Na manhã do mar profundo, com as mortes do mundo.

...

Os homens no BARco

Os homens envelhecem no bar, bebendo as palavras salobras da noite e cuspindo o zinabre corrosivo do tédio. Na longa travessia das horas, destiladas pelos copos, sabem o cansaço dos corpos, os vincos nas faces vulneráveis e a vida moída pela mó do inexorável. Sabem nesta hora o íntimo silêncio em que os gestos se anulam, os olhos no vazio vagam, e cada homem diz a si mesmo coisas uns aos outros indizíveis. Sabem agora a solidão sozinha do lobo ferido no ermo do mundo, e os inevitáveis borrões vermelhos da sangria própria do que é vivo e dói. E morrem os homens, à mesa do bar, barco de náufragos no mar de espuma da última cerveja.







 Valdivino Braz nasceu em Buriti Alegre (GO), em 23 de novembro de 1942. Formado em Jornalismo pela UFG (1984), é membro da União Brasileira de Escritores – Seção de Goiás (UBE-GO). Publicou dois livros de contos, um romance e dez livros de poemas, seis dos quais premiados em concursos. Entre eles, “A trompa de Falópio” (Prêmio Nacional Cidade de Belo Horizonte, 1992), de onde foram extraídos os excertos publicados acima.

Leia também:

domingo, 13 de março de 2011

Un poema de Aldo Luis Novelli

Un poema de Aldo Luis Novelli

>>>traducido por  Lauro Marques

O poeta argentino, Aldo Luis Novelli


Amorsaurio

nos rozamos en la calle.

le acaricié el pelo en la esquina.

hablamos de las injusticias del mundo
cerca del basural.

nos amamos con los restos
del cuerpo.

antes de dormirme
le leí un cuento de Monterroso.

y cuando desperté
ella ya no estaba allí.



Librillo editado por el Min. Educ. Nac. dentro del "Plan Nacional de Lectura" en la colección "Escribiendo en la Patagonia" que se distribuyó en todas las escuelas y Bibliotecas Populares de la Provincia


Amorsauro


nos roçamos na rua.

acariciei seus cabelos na esquina.

falamos sobre as injustiças do mundo
perto do lixão.

nos amamos com os restos
do corpo.

antes de adormecer
li para ela um conto de Monterroso.

e quando despertei
ela já não estava lá.



Livreto publicado pelo Min. Educ. Nac no âmbito do Plano Nacional de Leitura "na coleção "Escrita na Patagônia", que foi distribuído em todas as escolas e bibliotecas públicas da Província

[Tradução Lauro Marques]

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amuleto, Roberto Bolaño

"Metempsicosis. La poesía no desaparecerá. Su no-poder se hará visible de otra manera."
Uma das "profecias" de R. Bolaño, em "Amuleto", novela do autor, escrita em 1999, como um capítulo extraído de "Os Detetives Selvagens" que ganhou vida própria.

(Outra "profecia" é que "César Vallejo será leído em los túneles en el año 2045". Esta última eu já tratei de concretizar, pois já li, muitas vezes, César Vallejo em túneis.)

Faz parte dos delírios da personagem Auxilio Lacouture(*), escondida num banheiro da UNAM, durante uma invasão do Exército, em 1968, na Cidade do México.

Por trás, há o tema da morte - da poesia, dos poetas (seres perseguidos, fantasmagóricos, e às vezes ridículos, que gostariam de se imaginar heróicos), sua lenta e angustiada aparição e desaparição no mundo. E da memória. Da poesia como uma forma que resiste ao tempo: ela reencarnará, os poetas (ou suas obras), alguns, continuarão.

(*) Relendo essa nota, pensei que o sobrenome "La couture", que siginifica "costura", em francês, talvez seja uma chave, pode ser lido como "La culture", cultura.
"Y ese canto es nuestro amuleto"

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Notas soltas - Poesia

A poesia não tem recuos e avanços. Ela – é, permanece. Depois de retirar sua atuação “social”, é impossível deixá-la sem a plenitude vital e humana, do aprofundamento, de ser autônoma. E então? –Ela pode evidentemente aprofundar-se também naquelas esferas em que o sono atua com tamanha intensidade. “Ousar” permanecer no sono, enriquecer-se em seu domínio, comunicar-se com ele – nisto, se quiserem, é lenta certeza da poesia em si mesma – ela não necessita que lhe façam “indicações”, que lhe “permitam” e que a controlem (também é assim, e em concordância, o seu leitor).


Será que a poesia perde ou adquire algo em tais condições? Seria desejável deixar isso como uma pergunta formulada. O mais importante: ela sobrevive. Expulse-a pela porta, ela se esgueira pela janela.

Guenádi Aigui. Sono e poesia.


Deixe-me colocar-lhe uma questão, senhor Breton. Todos conhecemos a noite e os dois lados que todas as noites têm: a noite dentro de casa e a noite fora de casa. Ou seja: há a tranquilidade e o esperado e há, ainda, o medo e a estranheza. Claro que se poderá sempre dizer que a poesia não se encontra nem em um lado nem no outro: a noite tem dois lados e a poesia é a porta da casa no momento em que é aberta e o escuro cobre a relva e o céu. Mas quando alguém tem medo, deve correr para casa; e quando sente tédio, deve correr para a parte de fora da noite. E a poesia, que parece uma coisa parada, resolve, ao mesmo tempo, o tédio e o medo; o que é bom e dois, sendo uma única, a poesia.

 Gonçalo M. Tavares. O Senhor Breton e a entrevista.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Releituras de Guenádi Aigui

Em 2008 publiquei uma leitura minha de um poema de Aigui, na Revista Bula. (Clique para ir para a página da revista). Na época, eu escrevi "poeta russo", mas o correto é "tchuvache" (a Tchuváchia é uma república autonônoma da Ex-URSS). Utilizei uma tradução de George Yurievitch Ribeiro, que eu considero ainda melhor que a que nos dá agora Boris Schnaiderman, para os mesmos versos, publicada na recente e belíssima coletânea de textos da editora Perspectiva “Guenádi Aigui: Silêncio e Clamor”.

Disse melhor, mas na verdade, relendo, agora, deveria ter dito que as duas traduções são complementares. A de GYR era para mim mais familiar, daí o estranhamento. Como não entendo russo, fica difícil julgar. As traduções iniciam de modo diferente, mas depois seguem mais ou menos juntas. Fica merecendo um estudo posterior. A título de comparação, leia-se os versos iniciais, pelos dois tradutores: "no clarão/ da angústia desfeita em pó" (BS); "no invisível crepúsculo/ de saudade pulverizada" (GYR). Na segunda tradução, a presença da palavra invisível (que não deixa de ser sugerida na primeira), marcou minha leitura do poema.

O conhecimento da biografia do autor também serviria para uma leitura do poema em questão, chamado "Silêncio", quando sabemos que o poeta foi levado ao ostracismo na Rússia, por não se adequar às diretrizes do realismo socialista. Veja-se, sobre isso, os versos, que vem imediatamente após os dois primeiros citados no parágrafo anterior, e são um testemunho da coragem e da firmeza de princípios do autor em relação à sua arte:


“conheço o inútil como os pobres conhecem a última roupa

e trastes antigos

e sei que essa inutilidade

é justamente a de que o país necessita de mim” (GYR)


Muito semelhante é essa passagem na nova tradução, de BS:


“conheço o desnecessário como os pobres conhecem a

roupa última

e os velhos trastes

e sei que este desnecessário

é o que o país precisa de mim”

Em um outro poema de Aigui, chamado “O Nosso”, traduzido na coletânea organizada por BS, a poesia, que neste poema é também sono e silêncio do poeta, é colocada ao lado da verdade, em favor da vida, num contraponto à mentira – reservada para o Estado.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Comentário de Antonio Carlos Secchin sobre o livro "Sumário de Incertezas"

"De um ou outro modo, praticamente todos os poemas surpreendem, pelo despojamento aliado à inventividade imagística e intensidade lírica".

Mensagem do doutor em letras pela UFRJ,  professor de Literatura Brasileira das universidades de Bordeaux, (1975-1979), Roma (1985), Rennes (1991), Mérida (1999), Nápoles (2007), Paris-Sorbonne (2009) e da Faculdade de Letras da UFRJ, crítico e poeta, da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin, comentando o recebimento e leitura do meu livro Sumário de Incertezas, Confraria do Vento, 2010.
 
Leia o perfil de Antonio Carlos Secchin no site da Academia Brasileira de Letras.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Do que não escapam os poetas |Resenha de Sumario de Incertezas

"Inscreve-se, escreve-se como quem morre. Vive-se a morte que nos vive. Está escrito. “Cada um se mata o suficiente para continuar vivo”, dizia o poeta Pio Vargas, que, de súbito, se matou. "



Texto completo aqui:

Do que não escapam os poetas |Resenha de Sumario de Incertezas |Revista Bula


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011