Literatura
Os livros têm os mesmos inimigos que os homens; o fogo, a umidade, as feras, o tempo; e seu próprio conteúdo.
O pensamento tem dois sexos; fecunda-se e fica grávido de si mesmo.
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A existência da poesia é essencialmente negável; do que podemos extrair as tentações próximas da arrogância. - Sobre esse ponto, ela se assemelha ao próprio Deus.
Podemos estar surdos quanto a ela, cegos quanto a Ele - as consequências são insensíveis.
Mas isso que todo mundo pode negar e que queremos que haja - se torna o centro e o símbolo poderoso de nossa razão de sermos nós.
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Um poema deve ser uma festa do Intelecto. Ele não pode ser outra coisa.
Festa: é um jogo, e no entanto, solene, regrado, significativo; imagem daquilo que não temos de ordinário, do estado em que os esforços são ritmos, recuperados.
Celebramos algo quando o realizamos ou o representamos no seu estado mais puro ou mais belo.
Aqui, a faculdade da linguagem, e seu fenômeno contrário, a compreensão, a identidade das coisas que ela separa. Descartamos suas misérias, suas fraquezas, seu cotidiano. Nós organizamos todo o possível da linguagem.
Terminada a festa, nada deve restar. Cinzas, guirlandas pisadas.
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Para o poeta:
A orelha fala,
A boca escuta;
É a inteligência, a vigília, que infantiliza e sonha
É o sono que vê claro;
É a imagem e o fantasma que observam,
É a falta e a lacuna que criam.
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A maioria dos homens têm da poesia uma idéia tão vaga que essa imprecisão mesma de sua idéia é para eles a definição da poesia.