terça-feira, 27 de setembro de 2005

A Beleza é Difícil, Yeats

Mais um velho post, atualizado hoje.
2.2.04 "A Beleza é Difícil, Yeats"

The Lady with the Monkey.This drawing was done as part of the series, Six Drawings Illustrating Theophile Gautier's Romance Mademoiselle de Maupin by Aubrey Beardsley published by Leonard Smithers and Co., London, 1898.

Da dificuldade de falar da beleza. Li há pouco O caso Wagner — Um problema para Músicos/Nietzsche contra Wagner ― dossiê de psicólogo. É um dos melhores que já li de N. Cito na tradução de Paulo César de Sousa:
"Pulchrum est paucorum hominum" [o belo pertence a poucos]. Mau! Nós compreendemos o latim, e compreendemos também nosso interesse. O belo tem seus espinhos: nós o sabemos. Logo, para que beleza? [...]
No que toca arrebatar as pessoas, isto já se relaciona com a fisiologia. Estudemos sobretudo os instrumentos. Alguns deles convencem até as entranhas (— eles abrem as portas, para falar como Händel), outros encantam a medula espinhal. A cor do som é decisiva; o que soa é indiferente. É esse o ponto que devemos refinar! Por que nos desperdiçarmos? Sejamos, no timbre, característicos até à loucura! Nosso espírito ganhará o crédito, se os nossos timbres insinuarem enigmas! Exasperemos os nervos, acabemos com eles, utilizemos raio e trovão! ― isso arrebata...
[...] A beleza é difícil: cuidado com a beleza!... mais ainda com a melodia! Injuriemos, meus amigos, injuriemos, se de fato vemos como sério nosso ideal, injuriemos a melodia! Nada mais perigoso que uma bela melodia! Nada corrompe mais certamente o gosto! Estamos perdidos, caros amigos, se voltam a ser amadas as belas melodias!...
Princípio básico: a melodia é imoral. Demonstração: Palestrina. Aplicação prática: Parsifal. A ausência de melodia chega a santificar...
E eis a definição de paixão. Paixão ― ou a ginástica do feio na corda da inarmonia. ― Ousemos ser feios, caros amigos! [...] O "peito dilatado" seja nosso argumento, o "belo sentimento" nosso porta-voz. A virtude prevalece até mesmo em relação ao contraponto. "Como não seria bom aquele que nos faz melhor?", assim raciocinou desde sempre a humanidade! Então melhoremos a humanidade!― é o meio de tornar-se bom (de tornar-se até mesmo "clássico" ― Schiller tornou-se "clássico"). A procura pelo baixo excitamento dos sentidos, pela assim chamada beleza, tirou o nervo aos italianos, continuemos alemães! [...] Não admitamos jamais que a música "sirva à recreação"; que ''distraia"; que "dê prazer". Jamais devemos dar prazer! Estamos perdidos, se houver um retorno da concepção hedonista da arte... Isto é péssimo século XVIII... Contra isso nada seria mais aconselhável, diga-se de passagem, que uma dose de ― hipocrisia, sit vênia verbo [com o perdão da palavra]. Isso empresta dignidade.
[...]


Fonte: Ensaio de Wagner, Religião e Arte em O caso Wagner, § 6, Cia das Letras, 1999.

Ao mesmo tempo, reencontrei simultaneamente e ao acaso, com minha esposa, um livrinho de poesia chamado A Beleza Difícil, coletânea de Hopkins, na tradução de Augusto de Campos, cujos poemas (Carrion Comfort) e That Nature is a Heraclitean Fire and of the comfort of the Resurrection muito me influenciaram quando li a primeira vez num caderno de cultura há muito tempo atrás. Na epígrafe do livro: "'La beauté, A beleza é difícil, Yeats', disse Aubrey Beardsley,/ Quando Yeats lhe perguntou porque ele desenhava horrores" (Ezra Pound, CANTO LXXX).
Para ler mais:
Gerard Hopkins
Electronic resources related to G.M. Hopkins (1844-89) and his poetry

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