terça-feira, 22 de novembro de 2005

Canto a mim mesmo


Com música forte eu venho,
com minhas cornetas e meus tambores:
não toco hinos
só para os vencedores consagrados,
toco hinos também
para as pessoas batidas e assassinadas.

Vocês já ouviram dizer
que ganhar o dia é bom?

Pois eu digo que é bom também perder:
batalhas são perdidas
com o mesmo espírito
com que são ganhas.

Eu rufo e bato o tambor pelos mortos
e sopro nas minhas embocaduras
o que de mais alto e mais jubiloso
posso por eles.

Vivas àqueles que levaram a pior!
E àqueles cujos navios de guerra
afundaram no mar!
E a todos os generais
das estratégias perdidas,
que foram todos heróis!
E ao sem número dos heróis maiores
que se conhecem!

Walt Whitman


Poema 10

¿Cuántas formas de visión
se han abierto en nosotros?
Sabíamos que una sola no basta
y casi sin sentirlo
hemos ido incorporando nuevas ópticas,
insólitas retinas,
a esa ruda ecuación
de ver, ser y pasar.

Y ahora ni siquiera sabemos
con qué ojos vemos lo que vemos.
Ni sabemos tampoco
si aún somos nosotros los que vemos.

Roberto Juarroz


Depois que eu voltar
De dentro das molduras
Apago meus retratos
Invento outras figuras

Convoco meus fantasmas
Convido mil demônios
E dou posse a todos eles
No governo dos neurônios

Pio Vargas


não há caminho e
nada valho
meu rir lascivo
é uma coreografia de enganos

eu cresci como crescem
os espantalhos

eu cresci sem planos

Carlos Willian


Insurgências

Meu nascedouro foi ocupado
por insurgências

Cresci a meu modo
sonâmbulo e desigual
arvorando-me desarmado
e mesmo assim, cúmplice

Na última parte dos desejos
pintei camisas bordadas
e bebi vinhos doces
tão amargos, porém

Foram chuvas que me levaram
foram lágrimas que me lavaram
e eu segui,
sentindo em cada talho
um pequeno desconforto

Mas a madeira do meu corpo
não cresceu a tempo
ficou o ferro dos dentes
resultou a pedra e o mármore dos olhos

Tecerei em silêncio
a forma que me devolva
o nascedouro ocupado.

Samarone Lima


A poesia

Troco cinco poemas por um prato de sopa.
Escrevo versos podres num rolo de papel
desonrado, e jogo fora em serena descarga.

Não tenho honrado muito a velha poesia.
Talvez porque não esteja à altura dela.
Assim, leio poemas dos outros e sinto
como se fossem meus.
Afinal, poesia é poesia.
Não importa quem escreveu.

Começo um verso esperando nunca terminá-lo.
Mas ele quer, quer sair, desbastar, a mim, vir.

Não escrevo para ser poeta.

Escrevo porque não tenho saída.

Ou é isso.
Ou o nada.

E o nada, já tenho o bastante.

Gustavo Castro

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