O argumento defendido por Olavo de Carvalho em um artigo republicado na Revista Bula, sobre o maior massacre já cometido em uma universidade norte-americana, é tão absurdo quanto a tese de “mártir do anticonsumismo” aplicada ao autor do crime e ridicularizada por ele no mesmo texto. Segundo Olavo, o morticínio é resultado de uma lei que proíbe o porte de armas dentro de universidades nos Estados Unidos.
“Se apontasse uma arma para um caixa do WalMart, levaria chumbo de dez fregueses ao mesmo tempo”, defende ele. Esquece, entre várias inconsistências, que antes de tudo a lei vale para todos, inclusive para os alunos esquisitões e não apenas para “professores e funcionários”, os tais “patos sentados” como ele chama no texto. A alternativa seria transformar a sala de aula numa trincheira de guerra com professores treinados pelo FBI e prontos a reagir ao primeiro sinal de “ameaça” à segurança.
Por falar em argumentos absurdos, também estapafúrdias e apressadas foram as comparações suscitadas por um post em um dos blogs do jornal “The New York Times” na Internet, sugerindo semelhanças entre cenas do filme “Old Boy” e as poses do garoto sul-coreano, que matou 32 pessoas da Universidade Técnica de Virgínia. Nas imagens ele aparece segurando faca, martelo e armas de fogo - entre elas uma pistola Glock de 9 mm comprada 36 dias antes numa loja em que o rapaz de 23 anos só precisou mostrar seu green card de imigrante legal, além de passar no “exame” do vendedor. Este relatou: “Ele era um garoto universitário simpático e bem vestido. Não vendemos uma arma se temos qualquer indicação de que a compra é suspeita”. Um pacote com 27 vídeos, além de fotografias e textos escritos, foi enviado pelo estudante no intervalo entre um crime outro à rede de televisão NBC.
Por que não comparar também essas imagens com Jack Nicholson segurando um machado em “O iluminado”? Ou Robert De Niro apontando uma arma para a cabeça em “Taxi Driver”? “Vocês tiveram 100 bilhões de chances de evitar este dia, mas decidiram derramar o meu sangue. Vocês me encurralaram e só me deixaram uma opção. A decisão foi de vocês. Agora vocês têm sangue em suas mãos e nunca vão conseguir limpá-las”, diz o assassino em um dos vídeos enviados, cujo texto poderia ter sido extraído de Stalone Cobra - “Vocês são a doença, eu sou a cura” - ou Dirty Harry - “Make my day”.
Em um outro vídeo, o garoto professa uma confusa versão do cristianismo redentor e se compara a Jesus Cristo: “Vocês vandalizaram meu coração, rasgaram minha alma e queimaram minha consciência. Vocês achavam que era um garoto patético que vocês estavam extinguindo. Graças a vocês, eu morri. Como Jesus Cristo, para inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas.” Aqui o discurso poderia ter sido inspirado em um trecho da Bíblia - “Ah! filha de Babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a nós. Feliz aquele que pegar teus pequeninos e esmagá-los contra a pedra” (Salmo 137) e “Suas crianças também deverão ser feitas em pedaços diante de seus olhos; suas casas serão destruídas, e suas esposas violadas” (Isaías 13:16) - ou até mesmo no messianismo água-com-açucar de “Matrix”.
O que dizer então de milhares de outras imagens e mensagens de violência de zilhões de filmes e programas de televisão, sem esquecer, é claro, de livros e HQs e letras de músicas, sem falar nos video-games? “Old Boy”, o filme do diretor sul-coreano Chan-wook Park, é apenas mais uma obra nessa lista. Sem dúvida perturbador e memorável em vários aspectos, o filme vale a pena pelas qualidades cinematográficas e visuais que lhe renderam o Grande Prêmio do Júri de Cannes. Baseado em um mangá japonês, conta a história de um homem que passa 15 anos preso em um quarto sem saber o motivo. Quando o deixam escapar, tem início uma série ultraviolenta de atos contra aqueles identificados como culpados. Alguns críticos, chegaram mesmo a identificar no roteiro uma “crítica aos valores da sociedade oriental”.
O que influenciou realmente a cabeça do garoto dificilmente saberemos. É sabido que recentemente havia mostrado sinais de perturbação, incluindo colocar fogo num quarto do dormitório e de ter sido denunciado à polícia por duas colegas que o acusaram de perseguição. Segundo disseram outros estudantes que o conheceram, ele era ridicularizado durante o ensino médio por causa do excesso de timidez e “jeito esquisito de falar”. O personagem da tragédia absurda que decidiu protagonizar para o mundo ver (vê-lo) foi sem dúvida influenciado pela cultura da violência a que ninguém pode mais fingir que está imune. Mas ninguém faz o que ele fez apenas para aparecer ou por pura vontade de imitar, a não ser que tenha um distúrbio mental muito sério. Junte a isso a facilidade de se obter e usar armas e você terá todos os ingredientes explosivos juntos.
Olavo de Carvalho acha que com professores armados em sala de aula, o problema todo estaria resolvido. No Brasil, da bala perdida e do Estado distante, país líder mundial em jovens entre 15 a 24 anos mortos por arma de fogo, ficaria ainda mais difícil de apontar quem seriam os verdadeiros culpados e onde estaria a solução.
“Se apontasse uma arma para um caixa do WalMart, levaria chumbo de dez fregueses ao mesmo tempo”, defende ele. Esquece, entre várias inconsistências, que antes de tudo a lei vale para todos, inclusive para os alunos esquisitões e não apenas para “professores e funcionários”, os tais “patos sentados” como ele chama no texto. A alternativa seria transformar a sala de aula numa trincheira de guerra com professores treinados pelo FBI e prontos a reagir ao primeiro sinal de “ameaça” à segurança.
Por falar em argumentos absurdos, também estapafúrdias e apressadas foram as comparações suscitadas por um post em um dos blogs do jornal “The New York Times” na Internet, sugerindo semelhanças entre cenas do filme “Old Boy” e as poses do garoto sul-coreano, que matou 32 pessoas da Universidade Técnica de Virgínia. Nas imagens ele aparece segurando faca, martelo e armas de fogo - entre elas uma pistola Glock de 9 mm comprada 36 dias antes numa loja em que o rapaz de 23 anos só precisou mostrar seu green card de imigrante legal, além de passar no “exame” do vendedor. Este relatou: “Ele era um garoto universitário simpático e bem vestido. Não vendemos uma arma se temos qualquer indicação de que a compra é suspeita”. Um pacote com 27 vídeos, além de fotografias e textos escritos, foi enviado pelo estudante no intervalo entre um crime outro à rede de televisão NBC.
Por que não comparar também essas imagens com Jack Nicholson segurando um machado em “O iluminado”? Ou Robert De Niro apontando uma arma para a cabeça em “Taxi Driver”? “Vocês tiveram 100 bilhões de chances de evitar este dia, mas decidiram derramar o meu sangue. Vocês me encurralaram e só me deixaram uma opção. A decisão foi de vocês. Agora vocês têm sangue em suas mãos e nunca vão conseguir limpá-las”, diz o assassino em um dos vídeos enviados, cujo texto poderia ter sido extraído de Stalone Cobra - “Vocês são a doença, eu sou a cura” - ou Dirty Harry - “Make my day”.
Em um outro vídeo, o garoto professa uma confusa versão do cristianismo redentor e se compara a Jesus Cristo: “Vocês vandalizaram meu coração, rasgaram minha alma e queimaram minha consciência. Vocês achavam que era um garoto patético que vocês estavam extinguindo. Graças a vocês, eu morri. Como Jesus Cristo, para inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas.” Aqui o discurso poderia ter sido inspirado em um trecho da Bíblia - “Ah! filha de Babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a nós. Feliz aquele que pegar teus pequeninos e esmagá-los contra a pedra” (Salmo 137) e “Suas crianças também deverão ser feitas em pedaços diante de seus olhos; suas casas serão destruídas, e suas esposas violadas” (Isaías 13:16) - ou até mesmo no messianismo água-com-açucar de “Matrix”.
O que dizer então de milhares de outras imagens e mensagens de violência de zilhões de filmes e programas de televisão, sem esquecer, é claro, de livros e HQs e letras de músicas, sem falar nos video-games? “Old Boy”, o filme do diretor sul-coreano Chan-wook Park, é apenas mais uma obra nessa lista. Sem dúvida perturbador e memorável em vários aspectos, o filme vale a pena pelas qualidades cinematográficas e visuais que lhe renderam o Grande Prêmio do Júri de Cannes. Baseado em um mangá japonês, conta a história de um homem que passa 15 anos preso em um quarto sem saber o motivo. Quando o deixam escapar, tem início uma série ultraviolenta de atos contra aqueles identificados como culpados. Alguns críticos, chegaram mesmo a identificar no roteiro uma “crítica aos valores da sociedade oriental”.
O que influenciou realmente a cabeça do garoto dificilmente saberemos. É sabido que recentemente havia mostrado sinais de perturbação, incluindo colocar fogo num quarto do dormitório e de ter sido denunciado à polícia por duas colegas que o acusaram de perseguição. Segundo disseram outros estudantes que o conheceram, ele era ridicularizado durante o ensino médio por causa do excesso de timidez e “jeito esquisito de falar”. O personagem da tragédia absurda que decidiu protagonizar para o mundo ver (vê-lo) foi sem dúvida influenciado pela cultura da violência a que ninguém pode mais fingir que está imune. Mas ninguém faz o que ele fez apenas para aparecer ou por pura vontade de imitar, a não ser que tenha um distúrbio mental muito sério. Junte a isso a facilidade de se obter e usar armas e você terá todos os ingredientes explosivos juntos.
Olavo de Carvalho acha que com professores armados em sala de aula, o problema todo estaria resolvido. No Brasil, da bala perdida e do Estado distante, país líder mundial em jovens entre 15 a 24 anos mortos por arma de fogo, ficaria ainda mais difícil de apontar quem seriam os verdadeiros culpados e onde estaria a solução.