domingo, 12 de agosto de 2007

O ENGANO

É verdade que cultuo a incerteza pelo pouco que vale.

Oh, canções dos sóis distantes!

Hoje, compus uma canção de marinheiro, dessas bem tolas, para serem cantadas por um grupo de amigos, caneca à mão, em alegres rodas:

DESAFIO AO MAR



O mar é um marujo bêbado, este fim de tarde.
E eu não sei se sou um espectador ou sou ele
próprio se arrebentando no casco
de terra sobre o qual estamos,
em nossa embarcação de
pedra, aço e madeira.
(Todos estamos bêbados de cerveja e vinho e bebemos
sentados em nossas cadeiras, dormindo ou apenas admirando).
A verdade é que se passaram assim
mais de seis horas.
Ninguém sai daqui antes do sol
ir-se embora...

Não haverá vencedores nessa peleja...
Hoje, o banco de areia resistiu,
Mas, alto lá,
voltaremos amanhã, mar,
– e veremos!
*
*
*
Todos nós seremos grandes coisas assim que quisermos. Mas, ai de nós, não será ainda hoje.

Grandes corações, homens, artistas, escritores, poetas, atores. Amigos, maridos e esposas. Pais e filhos. Irmãos-na-alma.

Por enquanto, a única certeza acabou de se pôr no horizonte. E como eu estava longe, e chovia, e entre quatro paredes de concreto... Eu não vi nada.

Um dia nos tornaremos aquilo que somos. Mas, ai de nós, não hoje.

Volto o olhar mais uma vez sobre minha pequena criação tola. Que quis eu dizer, realmente, com aquilo?

Qual o desafio?

Os marujos só podem vencer o mar, na sua batalha contra o monte conquistado, arrebentando eles próprios o coração, transbordando de tanto beber nos seus copos de cerveja.

Falsa vitória!

E há pouco, julgava-os audazes e orgulhosos!


“O engano” ou como vi a mim mesmo num reflexo noturno.

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