É verdade que cultuo a incerteza pelo pouco que vale.
Oh, canções dos sóis distantes!
Hoje, compus uma canção de marinheiro, dessas bem tolas, para serem cantadas por um grupo de amigos, caneca à mão, em alegres rodas:
DESAFIO AO MAR
O mar é um marujo bêbado, este fim de tarde.
E eu não sei se sou um espectador ou sou ele
próprio se arrebentando no casco
de terra sobre o qual estamos,
em nossa embarcação de
pedra, aço e madeira.
(Todos estamos bêbados de cerveja e vinho e bebemos
sentados em nossas cadeiras, dormindo ou apenas admirando).
A verdade é que se passaram assim
mais de seis horas.
Ninguém sai daqui antes do sol
ir-se embora...
Não haverá vencedores nessa peleja...
Hoje, o banco de areia resistiu,
Mas, alto lá,
voltaremos amanhã, mar,
– e veremos!
*
*
*
Todos nós seremos grandes coisas assim que quisermos. Mas, ai de nós, não será ainda hoje.
Grandes corações, homens, artistas, escritores, poetas, atores. Amigos, maridos e esposas. Pais e filhos. Irmãos-na-alma.
Por enquanto, a única certeza acabou de se pôr no horizonte. E como eu estava longe, e chovia, e entre quatro paredes de concreto... Eu não vi nada.
Um dia nos tornaremos aquilo que somos. Mas, ai de nós, não hoje.
Volto o olhar mais uma vez sobre minha pequena criação tola. Que quis eu dizer, realmente, com aquilo?
Qual o desafio?
Os marujos só podem vencer o mar, na sua batalha contra o monte conquistado, arrebentando eles próprios o coração, transbordando de tanto beber nos seus copos de cerveja.
Falsa vitória!
E há pouco, julgava-os audazes e orgulhosos!
“O engano” ou como vi a mim mesmo num reflexo noturno.
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