quarta-feira, 12 de dezembro de 2007




“ No reencontro. ― A: Eu ainda o compreendo bem? Você está buscando? Onde se acham, no meio do mundo real de agora, seu canto e sua estrela? Onde pode você deitar-se ao sol, de forma que também lhe chegue um excedente de bem-estar e a sua existência se justifique? Que cada um faça isto por si próprio ― você parece me dizer ― e tire da mente as generalidades e as preocupações com os outros e a sociedade! ― B: Eu quero mais, eu não sou um buscador. Quero criar para mim meu próprio sol.”

Que Nietzsche tenha escrito isso por volta de 1882, em a Gaia Ciência, me faz pensar como, de todos os filósofos, ele talvez seja o mais necessário e como é necessária a sua leitura ainda hoje. E como anêmicos, afetados, frívolos e desnecessários ― por mais aberrante que soe a palavra ― me parecem Kant, Schiller, Schelling e outros pensadores alemães, com seus sistemas e metas e ideais e conceitos abstratos, sempre pairando um pouco acima da superfície sem jamais produzir nenhum atrito. Todos muito altos e etéreos ― ... e muito pouco (profundamente) superficiais!


VEGETARIANISMO

Corrijo um erro: não foi em A Gaia Ciência a definição do vegetariano que citei em outra ocasião. Foi em O Caso Wagner, dedicado a “desmascarar” o compositor alemão Richard Wagner. “Definição do vegetariano: um ser que necessita de um fortificante”. Interessante que em Ecce Homo, ao mesmo tempo em que espinafra a cozinha alemã e elogia a italiana do Piemonte, ele se declara “um adversário por excelência do vegetarianismo, exatamente como Richard Wagner, que me converteu”, além de se declarar contra qualquer bebida “espirituosa” (mais menos como Wagner era para ele): “água basta...”! (Ao que retrucaria um não abstêmio irônico como Fernando Pessoa: “Dêem-me de beber que não tenho sede!”).

BARRABÁS

Esse livro, Ecce Homo ― cujo título é extraído da versão vulgata da Bíblia, no evangelho de são João, capítulo 19, onde Pilatos apresenta Cristo aos judeus ― contém a melhor argumentação para aqueles que professam uma aceitável dúvida em Deus (ao contrário daqueles que só acham possível crer em Deus). Deus é uma resposta grosseira.“Sou muito inquiridor, muito duvidoso, muito altivo para me satisfazer com uma resposta grosseira. Deus é uma resposta grosseira, uma indelicadeza para conosco, pensadores ― no fundo, até mesmo uma grosseira proibição para nós: não devem pensar!”.

LIVRE PENSAR

“Eis o homem”, o episódio bíblico da escolha de Barrabás serviu como desculpa para a perseguição e morte de judeus nos séculos seguintes. Dizem que santo de casa não faz milagres, mas fato é que o sectarismo de Jesus não alterou muito o judaísmo até hoje, passados mais de dois mil anos, e a maior parte dos povos do Oriente Médio professa a fé islâmica. Não deixa de ser também uma boutade histórica que os santos floresceram na Itália dos dominadores romanos e de lá saíram também a maior parte dos “representantes” de Cristo na terra.

5 comentários:

Walmir disse...

Difícil comentar este post, meu amigo, tantos assuntos são tocados. Ainda assim, o velho Friedrich continua um jovem levantando poeiras. Só não concordo com a "superficialidade de Kant". O próprio FN foi beber água no agnosticismo dele que disse: "não se pode provar que Deus existe, do mesmo modo que não se pode provar que não existe".
Já as santidades funcionam um pouco como o prêmio Nobel. São agraciados sempre os que estão próximos da corte, neste caso as grandes universidades que tentam formular o pensamento do mundo.
Paz e bom humor.
Instigante sempre o que vc escreve.
do leitor Walmir
http://walmir.carvalho.zip.net

Anônimo disse...

Laurão meu querido, estou de passagem breve pela região. Estarei em Santos de 22 a 30 de dezembro. Será possível nos encontrarmos? Deixo meus fones (13) 3239-7479, (82) 9302-7570 e email: abutre3000@uol.com.br
Em todo caso, paciência com mais esse fim de ano. Forte abraço do ainda amigo muito próximo, Bispo.

Walmir disse...

Lauro,
Feliz Natal.
Vida longa, fértil, criativa e bem sucedida e este blog.
Paz e bom humor sempre.
Walmir
http://walmir.carvalho.zip.net

Lauro Marques disse...

Walmir, amigo, veja bem, a superficialidade do "profundo", alto, etéreo, ideal, e a profundeza da superficíe - Onde se acham, no meio do mundo real de agora, seu canto e sua estrela?

E cá entre nós, essa frase de Kant, qualquer torcedor do Bom-Sucesso...

Quanto às santidades, concordo inteiramente...
Feliz blog novo para você também e obrigado pela leitura e comentários!

medusa que costura insanidades disse...

Depois de ler Nieztche jamais fui a mesma
guia prático de sobrevivência do pensar
gostei da abordagem