quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

3 poemas

O Poeta



Acostumar-se a este ofício

Que não é melhor, nem pior

A nenhum outro

Mas que é o único em que te sentes

Igual a ti mesmo e teus semelhantes

Com todas tuas garras e dentes

E preocupar-se com mais nada



A poesia



A poesia é um longo e interminável diálogo entre poetas, no qual se entra como num rio caudaloso. Igual perigo de afogar-se nessa corrente.



Buenos Aires (*)


Não sei quando voltaremos, Buenos Aires

talvez nunca, talvez esta noite, talvez nunca

quem sabe?

Talvez esta cidade seja como todo o resto

criado pelo imprecavido intento humano

de reinventar-se.

Talvez não seja mais que isso, uma breve ilusão

rodeada de praças bem ou mal iluminadas

Um labirinto efêmero em que se perder

e ao qual sonhamos, constantemente, reingressar.

_________

(*)Fiquei com medo de ter roubado o poema Buenos Aires de Borges ou de alguma coisa que li sobre Borges. O fato é que a figura do labririnto ---e do labirinto dentro do labirinto, penso no cemitério da Recoleta--- é inseparável daquela cidade. Estou carregando na minha mochila o volume 1 das obras completas do homem, em que consta "Fervor de Buenos Aires", primeiro livro (e de poesia) dele. Tinha lido antes e não tinha gostado, agora depois de ter conhecido BsAs passou a fazer outro sentido.

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