Lendo "Absolutamente nada", seleção de textos de
Robert Walser (que o vendedor entendeu Roberto Salsa e depois emendou uma
valsa), me esforçando para gostar. O homem era admirado, segundo me informa a
contracapa, por ninguém menos que Walter Benjamin, Musil, Kafka e Herman Hesse,
que escreveu: "Se Walser tivesse cem mil leitores, o mundo seria um lugar
melhor". Alguns contos são de uma singeleza que nossa época brutal não
mais permite. De tão evanescente fica-se um gosto de nada. Algumas imagens são
decididamente clichês e pelo menos um conto, "O bote", na minha
opinião não mereceria estar na seleção do tradutor Sergio Tellaroli. Por outro
lado, há uma crônica genial sobre as calças compridas das mulheres, escrita em
1911, na qual o autor parece adivinhar o futuro. E eu me lembrei de Antônio
Maria, o genial cronista brasileiro, que teve a desgraça de escrever em
português, num país que não existe no mapa. Antonio Maria por sinal faria 94
anos em 17 de março - ninguém lembrou. Outro conto, "A história de
Helbling", lembra o escrivão Bartleby de Herman Melville e Fernando
Pessoa, do Livro do Desassossego.
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