quinta-feira, 9 de junho de 2011

O homem tolo/ El hombre tonto

Foto "Páteo noturno_sepia", de Lauro Marques
O homem tolo construiu castelos de gelo no verão, onde pensou em morar por muitos anos e rimou palavras a esmo para surdos-mudos e analfabetos, numa língua morta e desconhecida desde então.



O homem tolo saiu à noite com uma lanterna apagada procurando pela escuridão e só encontrou-se a si mesmo.



Esse homem tolo abriu as janelas de sua alma numa rua deserta e, no lugar de inspirar, expirou ali mesmo.

El hombre tonto construyó castillos de hielo en verano, donde pensó vivir por muchos años e hizo rimas con palabras al azar para sordomudos y analfabetos en una lengua muerta y ya para siempre desconocida.

El hombre tonto salíó de noche con una linterna apagada en busca de la oscuridad y sólo se encontró a sí mismo.

Este hombre tonto abrió las ventanas de su alma en una calle desierta y, en lugar de inspirar, expiró allí mismo.






De: "Sumário de Incertezas/Resumen de Incertidumbres"", Lauro Marques. Editora Confraria do Vento, 2010

Gracías a Jorge Paolantonio por correcciones a la versíon en español.

2 comentários:

Lauro Marques disse...

O homem tolo da minha narrativa tem uma semelhança com a anedota contada por Diôgenes Laêrtios sobre Diôgenes de Sinope (413-323 a. C.), "durante o dia Diôgenes andava com uma lanterna acesa dizendo: 'Procuro um homem!'". Numa parábola assemelhada, Nietzsche narra o “sinistro evento de um louco (tolle Mensch) que corria pela praça de mercado, gritando sem parar ‘Procuro Deus! Procuro Deus!’"(1) . Em todos os casos, os personagens procuram por algo que já haviam previamente encontrado (a escuridão –ou, podemos agora dizer, a “si mesmo”-, um homem, um deus). Uma quarta narrativa, a de Joyce (citando Maeterlinck), afirma: “If Socrates leave his house today he will find the sage seated on his doorstep. If Judas go forth tonight it is to Judas his steps will tend” (2). Ou seja, ao final da jornada, a cada um só é possível encontrar-se a si mesmo. Há um mandamento nietzschiano (também grego) que diz: “torna-te aquilo que tu és”.

(1) http://pt.scribd.com/doc/49859399/O-grito-de-um-louco
(2) http://www.cliffsnotes.com/study_guide/literature/Summary-and-Analysis-Chapter-9-Original-Text-page-8.id-153,pageNum-69.html

Lauro Marques disse...

Só, a lanterna apagada, em plena noite, não procurava um homem ou um deus (já não tinha essa ilusão). Seu encontro final tinha que ser consigo mesmo.