FSP, 30/11
Brasil tem 2º melhor IDH entre os Brics
DA REDAÇÃO
O termo Bric é usado para o grupo dos quatro gigantes econômicos emergentes -Brasil, Rússia, Índia e China. O Brasil é o segundo melhor entre os Brics em relação ao grau de desenvolvimento humano. No relatório das Nações Unidas, divulgado nesta semana, o país obteve o 70º lugar no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).A Rússia ficou três posições acima, como 67ª colocada. China e Índia ficaram atrás, com o 81º e o 128º lugares, respectivamente.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
"Chique", no "úrtimo"
Folha de São Paulo, 30/11
ELIANE CANTANHÊDE
"Chique"
BRASÍLIA - Segundo Lula, o Brasil agora é "chique", porque é do Brics, com Rússia, Índia e China, e além disso integra o grupo dos países de alto desenvolvimento humano. Ele, porém, esqueceu de alguns "detalhes" e manteve aquela postura curiosa: vitórias são sempre dele; derrotas, dos outros.
A curva do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil mostra claramente que os avanços do país são parte de um longo processo: 0,723 em 1990, 0,753 em 1995, 0,789 em 2000 e, enfim, 0,800 em 2005. Ou seja, o menor avanço em 15 anos foi justamente de 2000 para 2005.
É como Lula capitalizar a auto-suficiência do petróleo e a descoberta de um possível megacampo da Petrobras como mágicas dele. Ou, ainda, como Lula comemorar a marca de um milhão de carros da Ford na Bahia. O PT gaúcho expulsou a fábrica, e o PFL baiano pegou. A festa é do PFL (ou DEM) baiano.
E não custa lembrar que o Brasil entrou no grupo de alto desenvolvimento humano como lanterninha, o último entre os 70, o que não tem nada de chique, especialmente quando comparado ao desenvolvimento econômico, também resultado de um longo processo.
No confronto com dados da realidade, a coisa fica ainda pior. Na mesma semana em que Lula estala a língua de alegria com o IDH, o país e o mundo se chocam com a história de L., a menina franzina e violentada pela vida, entregue pelas "autoridades" às feras no Pará.
Essa menina não é um caso isolado. Ao contrário, sua dor chama a atenção para a situação de sabe-se lá quantas mulheres no Pará e sabe-se lá quantas mulheres e homens jogados como bichos em cadeias pelo país afora. Muitos, aliás, inocentes e sem defesa.
Números são números. Siglas são siglas. A realidade, senhor presidente, é que o Brasil vem evoluindo, sim, mas está longe, muito longe de ser "chique". Pergunte a L.
ELIANE CANTANHÊDE
"Chique"
BRASÍLIA - Segundo Lula, o Brasil agora é "chique", porque é do Brics, com Rússia, Índia e China, e além disso integra o grupo dos países de alto desenvolvimento humano. Ele, porém, esqueceu de alguns "detalhes" e manteve aquela postura curiosa: vitórias são sempre dele; derrotas, dos outros.
A curva do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil mostra claramente que os avanços do país são parte de um longo processo: 0,723 em 1990, 0,753 em 1995, 0,789 em 2000 e, enfim, 0,800 em 2005. Ou seja, o menor avanço em 15 anos foi justamente de 2000 para 2005.
É como Lula capitalizar a auto-suficiência do petróleo e a descoberta de um possível megacampo da Petrobras como mágicas dele. Ou, ainda, como Lula comemorar a marca de um milhão de carros da Ford na Bahia. O PT gaúcho expulsou a fábrica, e o PFL baiano pegou. A festa é do PFL (ou DEM) baiano.
E não custa lembrar que o Brasil entrou no grupo de alto desenvolvimento humano como lanterninha, o último entre os 70, o que não tem nada de chique, especialmente quando comparado ao desenvolvimento econômico, também resultado de um longo processo.
No confronto com dados da realidade, a coisa fica ainda pior. Na mesma semana em que Lula estala a língua de alegria com o IDH, o país e o mundo se chocam com a história de L., a menina franzina e violentada pela vida, entregue pelas "autoridades" às feras no Pará.
Essa menina não é um caso isolado. Ao contrário, sua dor chama a atenção para a situação de sabe-se lá quantas mulheres no Pará e sabe-se lá quantas mulheres e homens jogados como bichos em cadeias pelo país afora. Muitos, aliás, inocentes e sem defesa.
Números são números. Siglas são siglas. A realidade, senhor presidente, é que o Brasil vem evoluindo, sim, mas está longe, muito longe de ser "chique". Pergunte a L.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Bolsa Família "diminui desigualdade", mas...
Jornal de Debates
http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?tma_id=1454
O Brasil merece o posto de elite da qualidade de vida?
A ONU incluiu o Brasil no grupo de elite da qualidade de vida. O país é o último dos 70 mais bem colocados, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) superior a 0,800, em uma escala de zero a um. O ingresso aconteceu graças a uma revisão nas estatísicas de expectativa de vida, que elevou a esperança de vida de 70,8 anos para 71,7 no país.
De acordo com o relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, "o Bolsa Família é responsável por quase um quarto da recente queda abrupta na desigualdade no Brasil e por 16% de seu declínio na probreza extrema".
O assessor do Pnud (Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento Humano), Flávio Comin, aponta cinco áreas em que o Brasil está muito defasado em relação aos outros países de alto desenvolvimento: saneamento básico, pobreza, mortalidade infantil, mortalidade materna e desigualdade.
Na primeira área, um estudo da Fundação Getúlio Vargas demonstra que o país vai demorar para conseguir melhorar. Segundo a estimativa, se se manter o nível de crescimento das redes em 1,59% ao ano, somente em 2122 toda a população brasileira terá acesso à rede de coleta de esgoto. A fundação calculou que apenas 46,77% da população possuía rede de coleta em 2006. O Jornal de Debates pergunta: o Brasil merece o posto de elite da qualidade de vida?
http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?tma_id=1454
O Brasil merece o posto de elite da qualidade de vida?
A ONU incluiu o Brasil no grupo de elite da qualidade de vida. O país é o último dos 70 mais bem colocados, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) superior a 0,800, em uma escala de zero a um. O ingresso aconteceu graças a uma revisão nas estatísicas de expectativa de vida, que elevou a esperança de vida de 70,8 anos para 71,7 no país.
De acordo com o relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, "o Bolsa Família é responsável por quase um quarto da recente queda abrupta na desigualdade no Brasil e por 16% de seu declínio na probreza extrema".
O assessor do Pnud (Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento Humano), Flávio Comin, aponta cinco áreas em que o Brasil está muito defasado em relação aos outros países de alto desenvolvimento: saneamento básico, pobreza, mortalidade infantil, mortalidade materna e desigualdade.
Na primeira área, um estudo da Fundação Getúlio Vargas demonstra que o país vai demorar para conseguir melhorar. Segundo a estimativa, se se manter o nível de crescimento das redes em 1,59% ao ano, somente em 2122 toda a população brasileira terá acesso à rede de coleta de esgoto. A fundação calculou que apenas 46,77% da população possuía rede de coleta em 2006. O Jornal de Debates pergunta: o Brasil merece o posto de elite da qualidade de vida?
Desenvolvimento econômico à frente do social
O Estado de São Paulo
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Com atraso, Brasil entra no grupo de alto desenvolvimento humano
País alcançou 0,800 a passos lentos; renda melhorou, mas outros indicadores seguem em situação crítica
Lisandra Paraguassú e Lígia Formenti, BRASÍLIA
Pela primeira vez desde que foi divulgado o primeiro relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), há 30 anos, o Brasil alcançou a pontuação 0,800, o que coloca o País na categoria do alto desenvolvimento humano. O relatório é de 2007, mas com base nos dados de 2005.
A própria Organização das Nações Unidas (ONU), que coleta as informações e faz o cálculo do índice, trata a conquista brasileira de maneira comedida.
Veja a evolução do IDH
"É simbólico. Há muito para se fazer", afirmou Flávio Comin, especialista em Desenvolvimento Humano e assessor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que prepara o relatório do IDH. Só o Bolsa-Família, com a prática da transferência de renda, é que empurra o País para cima. A precariedade das políticas públicas de saúde, educação e saneamento não melhora significativamente a vida dos brasileiros.
Na comparação de índices sociais, o Brasil continua perdendo de países como Chile, Argentina, Uruguai e México. "Os números mostram que estamos no caminho correto, mas temos uma dívida social muito grande", afirmou Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social.
O Brasil chegou a um IDH 0,800, mas não conseguiu subir na comparação entre países. Era o 69º em 2006 (0,792). É o 70º neste ano, o último da linha de alto desenvolvimento humano. E chegou a esse estágio por conta de revisões na metodologia de cálculo dos dados, descobrindo-se que Albânia e Arábia Saudita têm situações melhores que a brasileira.
O grupo de médio desenvolvimento, onde sempre esteve o Brasil, vai de 0,500 a 0,799, enquanto os países com baixo desenvolvimento - a maioria, do continente africano - têm índices que chegam, no máximo, a 0,499.
EMPURRÃO ECONÔMICO
Um olhar mais atento sobre os números mostra que o Brasil melhora a passos muito lentos e, se avançou na economia, ainda deixa a desejar nos avanços sociais. É na comparação entre Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o IDH que a real situação social do Brasil aparece.Nesse índice, números positivos significam que o desenvolvimento social do País é maior do que o desenvolvimento econômico. O número brasileiro é três negativo.
Países que o Brasil ultrapassou no ranking têm resultados melhores. É o caso da Venezuela, que tem uma pontuação 14, do Equador, com 21, e do Paraguai, com 10.
"No Brasil, o desenvolvimento econômico está à frente do desenvolvimento social. É preciso crescer renda, mas é preciso que se cresça numa velocidade maior nessas dimensões sociais", afirma o assessor do Pnud.
Se o País melhorou gradativamente em todos os índices que compõem o IDH (renda, educação e saúde) é o aspecto econômico que tem tido mais peso, especialmente depois da criação de programas de transferência de renda - políticas iniciadas no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), com a criação da chamada Rede de Proteção Social, e que foram consolidadas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2004, com o Bolsa-Família, que unificou e expandiu a rede social.
Neste ano, a renda foi a única que teve crescimento real no Brasil. Saúde e educação tiveram índices melhores por conta de revisões de metodologias feitas pela ONU. O PIB per capita no Brasil passou de US$ 8.195 para US$ 8.402 (o dólar usado é o da Paridade de Poder de Compra, não o câmbio real).
Desse valor, US$ 130 são devidos à revisão dos dados, mas US$ 77 foi de crescimento real.No Índice de Pobreza Humana (IPH) - um cálculo que leva em conta a situação de saúde, renda e educação apenas da parte mais pobre da população -, o Brasil aparece em 23º lugar entre 108 países em desenvolvimento. Mas, quando se tira a renda da conta, o Brasil cai seis posições no ranking. Sobra um país em que ainda há uma enorme faixa da população analfabeta, com problemas de saneamento básico e mortalidades infantil e materna acima do aceitável.
ESPAÇO PARA OTIMISMO
Apesar dos problemas, a ONU aponta motivos para otimismo no Brasil. A previsão é que os relatórios dos próximos anos poderão trazer números melhores, resultado de investimentos atuais. "Uma coisa interessante é que houve redistribuição de renda nos últimos anos sem sacrifício da estabilidade econômica ou do crescimento", elogia Kevin Watkins, coordenador do relatório do IDH.
"Economistas freqüentemente dizem que não é possível distribuir renda com crescimento, mas o Brasil mostrou que isso pode acontecer."Mas Watkins faz cobranças. "Para que esse otimismo se confirme já se sabe que há requisitos relacionados ao crescimento econômico, redistribuição de terra e crédito e um sistema de impostos eficiente e igualitário", diz.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Com atraso, Brasil entra no grupo de alto desenvolvimento humano
País alcançou 0,800 a passos lentos; renda melhorou, mas outros indicadores seguem em situação crítica
Lisandra Paraguassú e Lígia Formenti, BRASÍLIA
Pela primeira vez desde que foi divulgado o primeiro relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), há 30 anos, o Brasil alcançou a pontuação 0,800, o que coloca o País na categoria do alto desenvolvimento humano. O relatório é de 2007, mas com base nos dados de 2005.
A própria Organização das Nações Unidas (ONU), que coleta as informações e faz o cálculo do índice, trata a conquista brasileira de maneira comedida.
Veja a evolução do IDH
"É simbólico. Há muito para se fazer", afirmou Flávio Comin, especialista em Desenvolvimento Humano e assessor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que prepara o relatório do IDH. Só o Bolsa-Família, com a prática da transferência de renda, é que empurra o País para cima. A precariedade das políticas públicas de saúde, educação e saneamento não melhora significativamente a vida dos brasileiros.
Na comparação de índices sociais, o Brasil continua perdendo de países como Chile, Argentina, Uruguai e México. "Os números mostram que estamos no caminho correto, mas temos uma dívida social muito grande", afirmou Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social.
O Brasil chegou a um IDH 0,800, mas não conseguiu subir na comparação entre países. Era o 69º em 2006 (0,792). É o 70º neste ano, o último da linha de alto desenvolvimento humano. E chegou a esse estágio por conta de revisões na metodologia de cálculo dos dados, descobrindo-se que Albânia e Arábia Saudita têm situações melhores que a brasileira.
O grupo de médio desenvolvimento, onde sempre esteve o Brasil, vai de 0,500 a 0,799, enquanto os países com baixo desenvolvimento - a maioria, do continente africano - têm índices que chegam, no máximo, a 0,499.
EMPURRÃO ECONÔMICO
Um olhar mais atento sobre os números mostra que o Brasil melhora a passos muito lentos e, se avançou na economia, ainda deixa a desejar nos avanços sociais. É na comparação entre Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o IDH que a real situação social do Brasil aparece.Nesse índice, números positivos significam que o desenvolvimento social do País é maior do que o desenvolvimento econômico. O número brasileiro é três negativo.
Países que o Brasil ultrapassou no ranking têm resultados melhores. É o caso da Venezuela, que tem uma pontuação 14, do Equador, com 21, e do Paraguai, com 10.
"No Brasil, o desenvolvimento econômico está à frente do desenvolvimento social. É preciso crescer renda, mas é preciso que se cresça numa velocidade maior nessas dimensões sociais", afirma o assessor do Pnud.
Se o País melhorou gradativamente em todos os índices que compõem o IDH (renda, educação e saúde) é o aspecto econômico que tem tido mais peso, especialmente depois da criação de programas de transferência de renda - políticas iniciadas no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), com a criação da chamada Rede de Proteção Social, e que foram consolidadas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2004, com o Bolsa-Família, que unificou e expandiu a rede social.
Neste ano, a renda foi a única que teve crescimento real no Brasil. Saúde e educação tiveram índices melhores por conta de revisões de metodologias feitas pela ONU. O PIB per capita no Brasil passou de US$ 8.195 para US$ 8.402 (o dólar usado é o da Paridade de Poder de Compra, não o câmbio real).
Desse valor, US$ 130 são devidos à revisão dos dados, mas US$ 77 foi de crescimento real.No Índice de Pobreza Humana (IPH) - um cálculo que leva em conta a situação de saúde, renda e educação apenas da parte mais pobre da população -, o Brasil aparece em 23º lugar entre 108 países em desenvolvimento. Mas, quando se tira a renda da conta, o Brasil cai seis posições no ranking. Sobra um país em que ainda há uma enorme faixa da população analfabeta, com problemas de saneamento básico e mortalidades infantil e materna acima do aceitável.
ESPAÇO PARA OTIMISMO
Apesar dos problemas, a ONU aponta motivos para otimismo no Brasil. A previsão é que os relatórios dos próximos anos poderão trazer números melhores, resultado de investimentos atuais. "Uma coisa interessante é que houve redistribuição de renda nos últimos anos sem sacrifício da estabilidade econômica ou do crescimento", elogia Kevin Watkins, coordenador do relatório do IDH.
"Economistas freqüentemente dizem que não é possível distribuir renda com crescimento, mas o Brasil mostrou que isso pode acontecer."Mas Watkins faz cobranças. "Para que esse otimismo se confirme já se sabe que há requisitos relacionados ao crescimento econômico, redistribuição de terra e crédito e um sistema de impostos eficiente e igualitário", diz.
"Abençoados por Deus" - sete crianças brasileiras morrem por dia em conseqüência da falta de saneamento básico
Folha online27/11/2007 - 13h36
Lula comemora IDH, diz que país é abençoado por Deus e reclama do FMI
RENATA GIRALDI
da Folha Online, em Brasília
Entusiasmado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou nesta terça-feira o resultado apontado pelo relatório de Desenvolvimento Humano 2007-2008, divulgado hoje pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
De acordo com o relatório, o Brasil entrou pela primeira vez no grupo de países considerados de alto desenvolvimento humano.
"Todo governo que vier vai se sentir na obrigação de fazer o Brasil crescer um ponto no relatório. Todos [no atual governo] têm o compromisso de que o país vive um momento tão especial que nós poderemos nos dar ao luxo de dizer que 'somos abençoados por Deus'", disse Lula.
27/11/2007 - 10h00
Brasil entra no grupo de países de alto desenvolvimento humano, mas cai no ranking
LORENNA RODRIGUES
da Folha Online, em Brasília
O Brasil entrou pela primeira vez no grupo de países considerados de alto desenvolvimento humano. Entre os dados que contribuíram para o desempenho brasileiro está o aumento na expectativa de vida da população. Em 2004, ela era de 71,5 anos para 71,7 anos em 2005.
Apesar disso, caiu uma posição no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), passando de 69º para 70º no item qualidade de vida.
O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou nesta terça-feira relatório que mostra que o IDH brasileiro alcançou 0,800 --em uma escala de 0 a 1--, o que é considerado alto. O índice divulgado hoje leva em consideração dados de 2005. No relatório do ano passado, de 2004, o IDH do Brasil foi de 0,792.
Os responsáveis pela pesquisa, porém, viram com cautela a melhoria no desempenho do país. Eles lembram que países como Argentina, México e Cuba estão à frente do Brasil no ranking há mais de 20 anos.
[...]
Ranking
Em 2005, a Albânia e a Arábia Saudita ultrapassaram o Brasil no ranking do IDH, ocupando agora a 68ª e a 61ª posição respectivamente. O Brasil, em compensação, ficou à frente da Dominica (71ª posição).
Países vizinhos do Brasil, porém, estão em melhor posição, como a Argentina (38ª), Chile (40ª) e Uruguai (46ª). A Islândia ocupa a primeira posição, com IDH de 0,968, seguida por Noruega, Austrália, Canadá e Irlanda. Em último lugar (177ª posição), com IDH de 0,336, está Serra Leoa.
Folha de São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Saneamento para todos só em 2122, diz FGV
Estimativa foi feita com base na taxa de crescimento do nível de coleta de esgoto no país, que atualmente está em 1,59% por ano
Fundação calculou que, em 2006, apenas 46,77% da população brasileira possuía rede de coleta de dejetos domésticos
DA SUCURSAL DO RIO
Com o atual nível de investimento em saneamento básico, só em 2122, daqui a 115 anos, a totalidade da população brasileira terá acesso à rede de coleta de esgoto, revela pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) divulgada ontem. Mais da metade dos brasileiros não tem esgoto recolhido.
[...]
A FGV calculou que, em 2006, somente 46,77% da população brasileira era beneficiada por rede de recolhimento de dejetos domésticos. Há 14 anos, era de 36,02% o percentual dos brasileiros com acesso a rede de esgoto.
Coordenador da pesquisa, o economista Marcelo Néri estimou que, a se manter o nível de crescimento das redes coletoras em todo o país observado a partir de 1992, somente daqui a, no mínimo, 56 anos, metade da população terá acesso a esgoto encanado. A atual taxa de crescimento da rede de esgoto nacional é de 1,59% por ano.
Mortalidade infantil
Ainda de acordo com a pesquisa, a mortalidade infantil na faixa de um a seis anos de idade é maior nas regiões do país onde não há esgoto coletado. Ao analisar os dados da Pnad, Néri concluiu que a falta de saneamento básico tem responsabilidade direta na mortalidade registrada nessa faixa etária.
A incidência de morte entre um ano e seis anos decorre do contato direto das crianças com as aglomerações de esgoto, afirma o pesquisador. Antes de completar o primeiro ano, o bebê ainda permanece mais tempo sob os cuidados de adultos.
Segundo Marcelo Néri, depois disso, os meninos, mais do que as meninas, passam a ficar mais soltos, pois começam a andar e a brincar fora de casa. Muitas vezes descalços e nus, circulam em meio à imundície acumulada em poças e valões. A maioria deles até bebe a água contaminada por coliformes fecais. Acabam vitimados por diarréias e outras doenças relacionadas à carência de saneamento básico.
Baixo investimento
Conforme divulgou o Instituto Trata Brasil, sete crianças brasileiras morrem por dia em conseqüência da falta de saneamento básico no local onde vivem. O instituto considera que o ideal seria investir em saneamento o equivalente a 0,63% do PIB (Produto Interno Bruto). Hoje, o investimento na área é de 0,22%.
Outras vítimas em potencial da ausência de rede coletora de esgoto são as gestantes, pois a falta de saneamento aumenta as chances de os filhos nascerem mortos. De acordo com a pesquisa, em áreas sem saneamento, aumenta em cerca de 30% a possibilidade de grávidas virem a parir natimortos.
A pesquisa mostra ainda que, apesar da gravidade da situação constatada nos índices oficiais do governo federal, a velocidade da expansão do saneamento básico é inferior à oferta de outros serviços públicos, como rede de distribuição de água, coleta de lixo e eletricidade.
O levantamento da FGV indica também que São Paulo é o Estado brasileiro com maior cobertura em saneamento básico -84,24% da população paulista é atendida por rede de esgoto. O Amapá convive com situação oposta. É o pior Estado brasileiro em termos de recolhimento de esgoto. Só 1,42% dos habitantes têm o benefício.
Lula comemora IDH, diz que país é abençoado por Deus e reclama do FMI
RENATA GIRALDI
da Folha Online, em Brasília
Entusiasmado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou nesta terça-feira o resultado apontado pelo relatório de Desenvolvimento Humano 2007-2008, divulgado hoje pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
De acordo com o relatório, o Brasil entrou pela primeira vez no grupo de países considerados de alto desenvolvimento humano.
"Todo governo que vier vai se sentir na obrigação de fazer o Brasil crescer um ponto no relatório. Todos [no atual governo] têm o compromisso de que o país vive um momento tão especial que nós poderemos nos dar ao luxo de dizer que 'somos abençoados por Deus'", disse Lula.
27/11/2007 - 10h00
Brasil entra no grupo de países de alto desenvolvimento humano, mas cai no ranking
LORENNA RODRIGUES
da Folha Online, em Brasília
O Brasil entrou pela primeira vez no grupo de países considerados de alto desenvolvimento humano. Entre os dados que contribuíram para o desempenho brasileiro está o aumento na expectativa de vida da população. Em 2004, ela era de 71,5 anos para 71,7 anos em 2005.
Apesar disso, caiu uma posição no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), passando de 69º para 70º no item qualidade de vida.
O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou nesta terça-feira relatório que mostra que o IDH brasileiro alcançou 0,800 --em uma escala de 0 a 1--, o que é considerado alto. O índice divulgado hoje leva em consideração dados de 2005. No relatório do ano passado, de 2004, o IDH do Brasil foi de 0,792.
Os responsáveis pela pesquisa, porém, viram com cautela a melhoria no desempenho do país. Eles lembram que países como Argentina, México e Cuba estão à frente do Brasil no ranking há mais de 20 anos.
[...]
Ranking
Em 2005, a Albânia e a Arábia Saudita ultrapassaram o Brasil no ranking do IDH, ocupando agora a 68ª e a 61ª posição respectivamente. O Brasil, em compensação, ficou à frente da Dominica (71ª posição).
Países vizinhos do Brasil, porém, estão em melhor posição, como a Argentina (38ª), Chile (40ª) e Uruguai (46ª). A Islândia ocupa a primeira posição, com IDH de 0,968, seguida por Noruega, Austrália, Canadá e Irlanda. Em último lugar (177ª posição), com IDH de 0,336, está Serra Leoa.
Folha de São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Saneamento para todos só em 2122, diz FGV
Estimativa foi feita com base na taxa de crescimento do nível de coleta de esgoto no país, que atualmente está em 1,59% por ano
Fundação calculou que, em 2006, apenas 46,77% da população brasileira possuía rede de coleta de dejetos domésticos
DA SUCURSAL DO RIO
Com o atual nível de investimento em saneamento básico, só em 2122, daqui a 115 anos, a totalidade da população brasileira terá acesso à rede de coleta de esgoto, revela pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) divulgada ontem. Mais da metade dos brasileiros não tem esgoto recolhido.
[...]
A FGV calculou que, em 2006, somente 46,77% da população brasileira era beneficiada por rede de recolhimento de dejetos domésticos. Há 14 anos, era de 36,02% o percentual dos brasileiros com acesso a rede de esgoto.
Coordenador da pesquisa, o economista Marcelo Néri estimou que, a se manter o nível de crescimento das redes coletoras em todo o país observado a partir de 1992, somente daqui a, no mínimo, 56 anos, metade da população terá acesso a esgoto encanado. A atual taxa de crescimento da rede de esgoto nacional é de 1,59% por ano.
Mortalidade infantil
Ainda de acordo com a pesquisa, a mortalidade infantil na faixa de um a seis anos de idade é maior nas regiões do país onde não há esgoto coletado. Ao analisar os dados da Pnad, Néri concluiu que a falta de saneamento básico tem responsabilidade direta na mortalidade registrada nessa faixa etária.
A incidência de morte entre um ano e seis anos decorre do contato direto das crianças com as aglomerações de esgoto, afirma o pesquisador. Antes de completar o primeiro ano, o bebê ainda permanece mais tempo sob os cuidados de adultos.
Segundo Marcelo Néri, depois disso, os meninos, mais do que as meninas, passam a ficar mais soltos, pois começam a andar e a brincar fora de casa. Muitas vezes descalços e nus, circulam em meio à imundície acumulada em poças e valões. A maioria deles até bebe a água contaminada por coliformes fecais. Acabam vitimados por diarréias e outras doenças relacionadas à carência de saneamento básico.
Baixo investimento
Conforme divulgou o Instituto Trata Brasil, sete crianças brasileiras morrem por dia em conseqüência da falta de saneamento básico no local onde vivem. O instituto considera que o ideal seria investir em saneamento o equivalente a 0,63% do PIB (Produto Interno Bruto). Hoje, o investimento na área é de 0,22%.
Outras vítimas em potencial da ausência de rede coletora de esgoto são as gestantes, pois a falta de saneamento aumenta as chances de os filhos nascerem mortos. De acordo com a pesquisa, em áreas sem saneamento, aumenta em cerca de 30% a possibilidade de grávidas virem a parir natimortos.
A pesquisa mostra ainda que, apesar da gravidade da situação constatada nos índices oficiais do governo federal, a velocidade da expansão do saneamento básico é inferior à oferta de outros serviços públicos, como rede de distribuição de água, coleta de lixo e eletricidade.
O levantamento da FGV indica também que São Paulo é o Estado brasileiro com maior cobertura em saneamento básico -84,24% da população paulista é atendida por rede de esgoto. O Amapá convive com situação oposta. É o pior Estado brasileiro em termos de recolhimento de esgoto. Só 1,42% dos habitantes têm o benefício.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
O novelo de Antonioni
“O fio perigoso das coisas e outras histórias”, livro de anotações de idéias para possíveis filmes, de Michelangelo Antonioni. São 33 “núcleos narrativos”, como ele chama, transformados em peças literárias, editado na Itália no início dos anos 80 e publicado aqui em 1990, pela editora Nova Fronteira.
Leio e vou destecendo nós, que são os nossos, um homem e uma mulher, desencontros.
“Na planície do Pó os homens amavam as mulheres com ironia”, diz em um desses fragmentos, intitulado “Crônica de um Amor que nunca existiu”. O Pó aí é o nome do rio no Norte da Itália... mas o importante mesmo é saber o que significa “amar uma mulher com ironia”, como tantos personagens masculinos nos filmes do cineasta morto aos 95 neste negro ano de 2007. ― Penso em Marcelo Mastroianni em “A Noite”, um filme com uma manhã e uma noite e essa ironia talvez seja na verdade desespero, carregado de angústia, quando amanhece.
“Com ironia” significa não se entregar totalmente, manter-se numa situação de proximidade distante, irônica, o contrário ou quase da alegria, que é entrega, total e permanente, sem reservas, talvez um estado impossível só alcançado de tempos em tempos e do qual se cai constantemente. A ironia seja por isso talvez uma defesa para tais quedas. Não entregar-se é manter-se ereto, com todas as conotações eróticas da frase.
A maioria dos contos ou pedaços de filmes imaginários ou não, alguns realizados anos depois, é sobre encontros e desencontros (tomando emprestado como foi traduzido no Brasil o título recente de um filme de Sofia Coppola, que bebe nessa fonte). “As geleiras da Antártida caminham três milímetros por ano em nossa direção. Calcular quando chegarão. Prever, num filme, o que acontecerá.” Num fragmento intitulado Antártida, Antonioni espera a geleira, que afinal chegou para ele, essa que pode fazer esperar mas não decepciona nunca.
Em “Este corpo de lama” temos primeiro uma breve exposição, resultado de pesquisa sobre a vida das mulheres num convento de clausura, tema para o qual o cineasta foi levado após a leitura de um episódio narrado por uma monja americana em seu diário e que daria segundo ele um belo início de filme. Em seguida tem-se uma narrativa também curta baseada nesse episódio.
Um homem encontra uma mulher andando sozinha à noite, muito grave, e resolve segui-la e então abordá-la. Após uma breve troca de palavras, ela o leva quase sem querer para uma igreja onde os dois se separam, por vontade dela, evitando-o por meio de um gesto e indo sentar-se à distância, completamente absorta numa espécie de transe místico. Ela lhe parece “um impermeável vazio, o corpo jogado fora. Este corpo de lama, diz Santa Teresa”.
Ao fim da missa, ele a perde de vista, mas resolve procurá-la na rua onde a havia visto sair de uma porta de casa para a noite antes. Encontra-a e no meio de hesitações trava uma batalha impossível de ser ganha que corresponde à luta travada entre uma fogueira teimando em arder e os primeiros flocos de neve: “Tem a impressão de nunca ter experimentado um desejo tão intenso de possuir uma mulher. Mas é um desejo diferente, que tem algo de meigo e respeitoso. É ridículo, pensa. E no entanto hesita na voz e não pode fazer nada contra isso, enquanto diz:
― Posso te ver amanhã?
Ela continua sorrindo nos poucos segundos de silêncio que precedem sua resposta. E sua voz não deixa transparecer nenhuma emoção quando fala.
― Amanhã vou entrar num convento de clausura.”
“Que início fantástico de filme!”, exclama Antonioni. Mas é um filme que para nós, ― plagiando-lhe ―, feliz ou infelizmente, acaba aqui.
Leio e vou destecendo nós, que são os nossos, um homem e uma mulher, desencontros.
“Na planície do Pó os homens amavam as mulheres com ironia”, diz em um desses fragmentos, intitulado “Crônica de um Amor que nunca existiu”. O Pó aí é o nome do rio no Norte da Itália... mas o importante mesmo é saber o que significa “amar uma mulher com ironia”, como tantos personagens masculinos nos filmes do cineasta morto aos 95 neste negro ano de 2007. ― Penso em Marcelo Mastroianni em “A Noite”, um filme com uma manhã e uma noite e essa ironia talvez seja na verdade desespero, carregado de angústia, quando amanhece.
“Com ironia” significa não se entregar totalmente, manter-se numa situação de proximidade distante, irônica, o contrário ou quase da alegria, que é entrega, total e permanente, sem reservas, talvez um estado impossível só alcançado de tempos em tempos e do qual se cai constantemente. A ironia seja por isso talvez uma defesa para tais quedas. Não entregar-se é manter-se ereto, com todas as conotações eróticas da frase.
A maioria dos contos ou pedaços de filmes imaginários ou não, alguns realizados anos depois, é sobre encontros e desencontros (tomando emprestado como foi traduzido no Brasil o título recente de um filme de Sofia Coppola, que bebe nessa fonte). “As geleiras da Antártida caminham três milímetros por ano em nossa direção. Calcular quando chegarão. Prever, num filme, o que acontecerá.” Num fragmento intitulado Antártida, Antonioni espera a geleira, que afinal chegou para ele, essa que pode fazer esperar mas não decepciona nunca.
Em “Este corpo de lama” temos primeiro uma breve exposição, resultado de pesquisa sobre a vida das mulheres num convento de clausura, tema para o qual o cineasta foi levado após a leitura de um episódio narrado por uma monja americana em seu diário e que daria segundo ele um belo início de filme. Em seguida tem-se uma narrativa também curta baseada nesse episódio.
Um homem encontra uma mulher andando sozinha à noite, muito grave, e resolve segui-la e então abordá-la. Após uma breve troca de palavras, ela o leva quase sem querer para uma igreja onde os dois se separam, por vontade dela, evitando-o por meio de um gesto e indo sentar-se à distância, completamente absorta numa espécie de transe místico. Ela lhe parece “um impermeável vazio, o corpo jogado fora. Este corpo de lama, diz Santa Teresa”.
Ao fim da missa, ele a perde de vista, mas resolve procurá-la na rua onde a havia visto sair de uma porta de casa para a noite antes. Encontra-a e no meio de hesitações trava uma batalha impossível de ser ganha que corresponde à luta travada entre uma fogueira teimando em arder e os primeiros flocos de neve: “Tem a impressão de nunca ter experimentado um desejo tão intenso de possuir uma mulher. Mas é um desejo diferente, que tem algo de meigo e respeitoso. É ridículo, pensa. E no entanto hesita na voz e não pode fazer nada contra isso, enquanto diz:
― Posso te ver amanhã?
Ela continua sorrindo nos poucos segundos de silêncio que precedem sua resposta. E sua voz não deixa transparecer nenhuma emoção quando fala.
― Amanhã vou entrar num convento de clausura.”
“Que início fantástico de filme!”, exclama Antonioni. Mas é um filme que para nós, ― plagiando-lhe ―, feliz ou infelizmente, acaba aqui.
Assinar:
Postagens (Atom)