domingo, 28 de dezembro de 2008

Poema para uma derrota (2)

Acrescento uma terceira imagem, que havia me passado despercebida anteriormente, no poema para uma derrota, de Gustavo Castro: o fato da casa que o poeta habita ser uma casa alheia.

Marcador 2

A frase escrita no marcador achada dentro do livro "A Vida Breve", de Juan Onetti -cuja leitura tive que interromper para ler os dois Bartlebys, comentados nos últimos posts- é minha. Esqueci de dizer.

Notas sem texto (2)

Enrique Vila-Matas tem o que se pode chamar de uma "escrita ágil", que prende o leitor, embora em alguns trechos do seu "Bartleby e companhia", seja um pouco repetitivo. Os melhores momentos são quando ele deixa de simplesmente recontar, a partir de inúmeras citações, e dá voz ao personagem que ele cria: o corcunda QuaseWatt. O nome, com o qual se renomeia o narrador até então sem nome, é uma homenagem a um personagem de Samuel Becket, o qual é confundido respectivamente com um monte de trapos, uma lata de lixo caída e um pacote de jornais velhos.

"Não inventamos nada, acreditamos inventar quando na realidade nos limitamos a balbuciar a lição, os restos de alguns deveres escolares aprendidos, esquecidos, a vida sem lágrimas, tal como a choramos. À merda.", diz o narrador, o qual, desde então passa a fazer parte do quadro descrito por ele (Rimbaud e Kafka estão entre os mais citados), sua obra também entra no universo das obras de arte em suspenso que povoam e assombram essas "notas sem texto", como ele, Quase-Watt / Vila-Matas, as chama, ou, alternativamente, "Notas do não".

Nota sem texto (1)


Após terminar a leitura de Bartleby, de Melville, e em seguida a de Bartleby e companhia de Enrique Vila-Matas, parece que me sinto pronto a terminar de escrever o novo conto que eu havia esboçado (ou seria melhor dizer, terminar de começar?).

domingo, 14 de dezembro de 2008

Marcador

Achado escrito à mão num marcador dentro do livro "A vida breve", de Juan Onetti: "Gosto dos livros porque são solidões portáteis".

sábado, 13 de dezembro de 2008

Na cafeteria


Notas 13/12/2008
Descobri hoje, lendo na nova livraria do shopping no bairro, que pertenço à linhagem dos Bartleby – os escritores do Não. Li o capítulo I do livro inspirado no escrivão de Melville, Bartleby & Cia, de Enrique Vila-Mattas. A preço de um café, li na cafeteria. (É quase tão bom quanto levar sem pagar. Não que eu faça isso. Não mais). O livro custa absurdos R$ 45,00. A editora Cossac & Naif tem sempre os livros mais caros, coffee tables de luxo. No shopping, várias senhoras desesperadas para "estar adquirindo" o best-seller que irão dar de presente no Natal para os parentes e "amigos secretos" que não irão ler. Frase de Juan Rulfo citado por Vila-Mattas, para justificar o porquê de ter escrito quase nada mais depois de Pedro Páramo: "Hoje em dia até os maconheiros publicam livros, tem muito livro estranho por aí". Sorri.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Poema para uma derrota



Acabei de ler (posso já ter lido, então releio) "Poema para uma derrota", de Gustavo de Castro (poeta estreante, editor autor), do livro Ossos da luz, editora Casa das Musas, 2007, o melhor livro do gênero que li este ano. Este é apenas um exemplo dos muitos bem-sucedidos poemas do livro, perpassado pelas sombras iluminadoras de René Char e do argentino Roberto Juarroz, com ecos de Nietzsche, Calvino e Cortázar (e que tem, lógico, altos e baixos e alguns erros de revisão, mas os altos são mais altos), cuja leitura é essencial.

Poema para um derrota



Entulhas pela casa, em todo canto, os restos do passado. Passeias entre caixas, malas, bolsas, vendo o desgoverno do teu estado. Lá fora, no orvalho da noite fria, não podes deixar de cobrir com lona, devido à chuva das monções, a velha cadeira pia que tantas vezes te sentou. Não podes deixar de notar o tanto de sonhos fracassados que és. O mar de espíritos velhos, este sertão cerrado convés vazio ao mar.

Entulhas pela casa alheia, em todo canto, o relógio velho parado, o monte de saco seco nordestinado, o quadro inacabado do pintor falido, o fogão sem forno funcionado. Procuras no meio do entulho a coleção de pedras, verás estranhamente, que elas continuam pedras. Mas já não pedras como antes. Agora são pedras mudadas, acompanhadas do claudicante pó do nada.


Duas imagens me causam impacto e dão idéia da força do poeta: a cadeira pia (porque velha mãe que "lhe sentou" tantas vezes no colo) que não se pode deixar de cobrir com lona, para proteger-lhe, este resto de passado tornado coisa, devido à chuva das monções - e o uso da palavra monção, de origem árabe, para indicar chuva intensa sazonal, tem um sabor especial também para os nordestinados como Gustavo.


A segunda imagem que fica é a da coleção de pedras, transformadas pelo tempo em outra coisa, cobertas por um pó de nada hesitante, metáforas para o próprio poema, que se oferece o tempo todo en abîme.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Descobri Enrique Vila-Matas


Descobri Enrique Vila-Matas. Leyla Perrone Moisés diz que é um dos melhores escritores espanhóis da atualidade. Gostei que ele mescla romance/crônica/ ensaio, memória e ficção. Estou para comprar Bartleby, mas preciso ler antes Melville, de quem não li sequer Mobydick. Quem disse q ignorância é uma benção? Talvez compre em espanhol, pois sai muito mais barato.