Era mulato, como a maioria da população de Ouro Preto, filho de arquiteto português, e de uma sua escrava africana. Produziu obras magníficas. As melhores estão fora da igreja, em Congonhas, expostas ao ar livre e à ação dos vândalos: a série dos doze profetas esculpidos em pedra sabão. O conjunto em madeira pintada representando sete cenas da Paixão de Cristo também é impressionante, cheio de sentidos enigmáticos que alguns interpretam como sendo referências à maçonaria e à Inconfidência. De novo, o sentido religioso não é o que atrai aqui e sim a maestria da obra, que contou com a ajuda dos discípulos para ser feita. (A doença que deformou as mãos de Aleijadinho estava já em estado avançado. Ele precisava atar o martelo e o cinzel nas mãos para poder esculpir e talhar.) Nota-se, entretanto, um estilo único em todas as esculturas, algo comovente.
Como tudo no Brasil, mesmo personagens recentes são envoltos em brumas, o que abre espaços para a especulação. A ausência de uma historiografia séria deixa dúvidas sobre a biografia e até mesmo da real existência desse personagem do barroco mineiro. As obras contudo estão lá, apesar de faltar um maior envolvimento das instituições que deveriam apoiar a pesquisa e a preservação desse patrimônio, perceptível para quem visite as cidades históricas mineiras.
Religião e mendicância
Em Ouro Preto, há um Museu do Oratório, com peças de todos os tipos. Entre os oratórios, existia um chamado de "esmoler", utilizado por mendigos, pendurado no pescoço, para pedir esmolas. Há uma linha contínua unindo religião e mendicância.
7 comentários:
vi recentemente na Livraria da Vila uma biografia do Aleijadinho. Não me lembro o nome da escritora mas era uma edição novíssima.
Guimarães Rosa dá uma nota sobre os negros trazidos para Minas: "eram africanos de estirpes mais finas, negros reais"
Valeu a dica Rosilene, eu vi uns livros no museu do Aleijadinho em Ouro Preto, deveria ter comprado. Adorei Tiradentes. Estranha a nota de Rosa, mas conheci a história de Chico-Rei, que escravizado, trabalhando em minas de ouro, conseguiu comprar a alforria de todos os súditos - a história é verdadeira? Onde estavam nossos historiadores? Parece que ficou tudo na tradição oral.
Lauro,
encontramos mais "memorialistas"do que "historiadores".
No Livro Minas,os mineiros... fala tb sobre o Chico Rei (que era principe na sua terra africana) assim como Chica da Silva.
Ele cita o memorialista Francisco de Paula Ferreira de Rezende e os historiadores João Dormas Filho (de Itaúna)e João Camilo de Oliveira Torres. E sobre Aleijadinho tem o historiador Bretas (que já ouvi falar dele no livrinho "Arquitetura" de Lucio Costa onde tem um ótimo capítulo sobre o Aleijadinho - enfim falei demais...
Ótimas dicas Rosilene, vamos ver até onde essa viagem despertou meu apetite pela nossa "história" cheia de buracos e contada pelos vencedores. Tenho a impressão que a história de Chico-Rei está mais para lenda e nem um pouco inocente. Parece ilógico que um escravo pudesse enriquecer apenas trabalhando direito para o "patrão".
só para terminar esta conversa... o historiador João Dormas dá crédito no que você acaba de duvidar: "os negros sempre se notabilizaram pela inteligência, pela operosidade e pela poupança, fazendo pecúlio, e chegando mesmo a adquirir fortuna. Extremamente unidos entre si, os mais ricos auxiliavam a alforria dos mais pobres" e dá exemplo de Chico Rei que "foi libertado por seus vasalos, assim como toda sua família imperial, e coroado e venerado em Ouro Preto, onde saía à noite debaixo de pálio e seguido de sua corte numerosa"... esta história até convence...
abraço
Terminar, que nada. Pois segundo o historiador Tarcísio José Martins, a "lenda" teria sido criada com a finalidade de esconder a verdadeira liderança do Rei Ambrósio, incutindo na mentalidade negra que um preto só daria certo se fosse submisso ao branco. Essa sim,convence. Beijos.
é Lauro, eu acredito em contos de fadas, este é o problema e vem você e diz que não existe Papai Noel. Tudo bem, em se tratando do que vemos hoje e a história não mudou nada, a sua história convence muiiiito mais.
abraço.
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