Em 1892, no ano seguinte à publicação de seu primeiro romance, intitulado "Os cadernos de André Walter", André Gide mandou imprimir, num pequeno volume, um complemento, composto apenas de 20 poemas, numerados em algarismos romanos. O título era “As poesias de André Walter (obra póstuma)”. Num prefácio à “edição definitiva”, que reúne as duas obras, de 1930, o autor escreve que é com um certo sofrimento que folheia os seus Cadernos, e mesmo com alguma mortificação, pela quantidade de defeitos que encontra na obra de juventude. “Ao contrário”, escreve ele, “eu leio com prazer algumas dessas Poesias que reapresento junto com os Cadernos. Eu as escrevi quase todas em menos de oito dias, pouco tempo após a publicação dos Cadernos, o que explica seu título, e essa atribuição a um André Walter imaginário, ainda que este estivesse já morto em mim. E mesmo não me parece que o André Walter dos Cadernos tivesse sido suficientemente capaz de os escrever; eu já o havia ultrapassado.”
A seguir, traduzo um poema deste livro:
XV
O PARQUE
Quando percebemos que a portinhola estava fechada,
Quedamos longo tempo a chorar;
Quando compreendemos que isso não serviria para nada,
Retornamos lentamente à estrada.
O dia inteiro, contornamos o muro do jardim,
De onde por vezes nos chegavam ruídos de vozes e de risos;
Pensávamos haver quem sabe festas sobre a relva,
E a idéia nos deixava melancólicos.
O sol à tardinha avermelhou os muros do parque;
Nós não sabíamos o que lá se passava, pois não víamos
Nada, a não ser os galhos que, por detrás do muro, se agitavam
E os quais deixavam cair, de tempos em tempos, folhas.
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