Na direção contrária ao ¿Por qué no te callas?, o guatemalteco Augusto Monterroso escreveu: Cuando tengas algo que decir, dilo; cuando no, también. Escribe siempre.
Li a respeito dele, falecido em 2003, que era um autor de minicontos. Na minha opinião, são minipoemas, como este “epitáfio”, carregado de humor, que traduzo a seguir:
Epitáfio achado no cemitério
Monte Parnaso de San Blas, S.B
Escreveu um drama: disseram que se julgava Shakespeare;
Escreveu uma novela: disseram que se julgava Proust;
Escreveu um conto: disseram que se julgava Tchekhov;
Escreveu uma carta: disseram que se julgava Lord Chesterfield;
Escreveu um diário: disseram que se julgava Pavese;
Escreveu uma despedida: disseram que se julgava Cervantes;
Deixou de escrever: disseram que se julgava Rimbaud;
Escreveu um epitáfio: disseram que se julgava morto.
Lendo os seus poemas -chamemo-os assim, talvez não mais de “mini”, pois o poema é sempre maior que a forma que ele contém- lembrei-me de René Char, E.E. Cummings, Samuel Menashes, Giuseppe Ungaretti e D.H. Lawrence. O texto traduzido a seguir poderia ser colocado lado a lado de um pansie (forma anglicizada do francês pensée) - título de um livro de poemas-pensamentos de D.H. Lawrence:
Cavalo imaginando Deus
“Apesar do que dizem, a idéia de um céu habitado por Cavalos e presidido por um Deus com figura equina repugna ao bom gosto e à lógica mais elementar, raciocinava dias destes o cavalo.
Todo mundo sabe -prosseguia em seu raciocínio- que se os Cavalos fôssemos capazes de imaginar Deus, o imaginaríamos na forma de Ginete.”
Tomado de La letra e, México, Era, 1987.
Tomado de La letra e, México, Era, 1987.
2 comentários:
ma-ra-vi-lho-so Lauro, aodrei o Monterroso!!!! quem fala muito dele é o vila-matas, aliás recomendo pra vc a leitura do Paris é uma festa, acho q vc vai rir muito. vou procurar mais coisas do augusto monterroso, já estava desconfiado que ele era bacana... abraços, gustavo
Pois é, o Millôr Fernandes traduziu algo dele. Gosto do Vila-Matas, ainda não li esse, vc leu o livro homônimo de Hemingway? Abraços.
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