Este será um grande poema
feito de pequenos acontecimentos.
Componho fragmentos no escuro, que é vida
e dou minhas fugas para a arte como quem diz chega!
e toda a tristeza do mundo nas calças do empregado de escritório com um botão faltando, a caminho do trabalho
e eu também metido em minhas “calças momentâneas”, qual Vallejo, pensando:
[Será triste ser isso?]
O pássaro enlouquecido, kamikase, num ato de desespero político e lírico, na batalha invisível, que os pássaros travam com as janelas e a cidade
não esperou o final da Primavera e mergulhou com a cabeça para baixo no vidro da porta da sala que separa a rua da casa, com um estampido surdo, quebrando o silêncio consagrado, no dia de finados
foi condecorado por bravura e estupidez e devidamente sepultado, sem maiores ritos nem pompas
numa caixa de papelão contendo pétalas e com a seguinte inscrição: “pássaro morto, 1º de novembro de 2010”
na lata de lixo orgânico do edifício
[E a vida continua, tanto para nós como para os pássaros]
As maritacas indiferentes a tudo a não ser a si mesmas, vieram, como de costume, bicar seus grãos de girassol.
Poema de Lauro Marques
Fotos de Alberto Pucheu
Um comentário:
adorei!
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